Julgamento contra a impunidade gera polêmica no Uruguai

O polêmico processo judicial de sete ativistas uruguaios contra a impunidade de crimes contra os direitos humanos durante a ditadura (1973-1985) foi o tema político central esta semana no país.

A esse respeito pronunciaram-se vários políticos, dirigentes sindicais e familiares de vítimas da repressão.

O presidente José Mujica abordou o tema em um pronunciamento por rádio e disse: “não nos agrada que a política se infiltre nos tribunais, porque faz mal à Justiça e se termina por envenenar em parte a convivência”.

A Justiça, para bem, para mal ou para regular está totalmente separada e independente do Poder Executivo e do Poder Legislativo, recordou Mujica.

Seria bom que nós, atores políticos, não misturemos a Justiça em nossas vicissitudes e crispações de caráter político, sustentou o mandatário.

O julgamento é contra aqueles que em fevereiro encabeçaram um protesto diante da Suprema Corte de Justiça (SCJ) por causa da inesperada transferência de uma juíza que investigava vários casos de violação de direitos humanos.

O protesto terminou com a ocupação do local pelos manifestantes e sua posterior expulsão por parte da polícia.

Entre os processados por esse incidente figuram o antigo dirigente guerrilheiro Tupamaro, Jorge Zabalza e a porta-voz da Plenária Memória e Justiça, Irma Leites, que denunciaram que o processo constitui uma perseguição política.

Na véspera, os processados prestaram declarações ante a juíza Gabriela Merialdo, que tem agora 45 dias para se pronunciar sobre o pedido de prisão dos ativistas por “violência privada e atentado contra a SCJ” feito pela promotoria.

Várias organizações sociais e sindicais se concentraram diante da sede do judiciário protestando contra o que consideram um ato político para judicializar as mobilizações.

Juan Castillo, vice-presidente da governista Frente Ampla, qualificou o pedido de muito exagerado e opinou que “não estamos diante de um delito com características que justifiquem a prisão”.

Por seu lado, a central sindical PIT-CNT sustentou em um comunicado que não compartilha o pedido de processo, pois “entendemos que é uma forma de judicializar as mobilizações populares”.

O PIT-CNT sempre respeitou a justiça uruguaia, sublinhou, mas esclareceu que neste caso – de não modificar sua postura – “ela cometerá um profundo erro que prejudicará as organizações da sociedade”.

Prensa Latina, de Montevidéu para Diálogos do Sul