Oposição muda estratégia para evitar vitória de Bachelet no Chile
A duas semanas da eleição presidencial no Chile, os três principais adversários de Michelle Bachelet fizeram modificações em suas estratégias de campanha para tentar impedir a vitória da esquerdista já no dia 17 de novembro. Evelyn Matthei, Marco Enríquez-Ominami e Franco Parisi diminuíram a troca de críticas entre si e passaram a concentrar esforços com a ex-presidente, que governou o país entre 2006 e 2010.
Por Victor Farinelli*, do Opera Mundi
Publicado 04/11/2013 11:32
Isso porque a maioria dos institutos de pesquisa mostra que é grande a possibilidade de a candidata socialista vencer já no primeiro turno, em 17 de novembro. Os números divulgados na última terça-feira (29) pelo instituto CEP, o mais prestigiado do Chile, colocam Bachelet com 47% das preferências, enquanto todos os seus concorrentes juntos obtêm 36%. A vantagem da primeira mulher que governou o país sobre a soma dos demais, que lhe garantiria uma vitória no primeiro turno, é superior aos 3% de margem de erro.
A principal mudança ocorreu na campanha da ex-ministra do Trabalho Evelyn Matthei, candidata que representa o governo do presidente Sebastián Piñera. Segunda colocada na pesquisa CEP, com 14% das preferências, a candidata da direita passou as últimas semanas fazendo duras críticas ao independente Franco Parisi, que cresceu nas intenções de voto e embolou a briga pelo segundo lugar, com ela e Enríquez-Ominami.
Em meados de outubro, Matthei levou à imprensa uma série de denúncias que apontavam problemas nas assessorias feitas por Parisi como economista, e uma ação na Justiça contra seu irmão, por não ter pagado as cotas previdenciárias a professores e funcionários de um colégio particular do qual é dono.
Porém, o resultado da última pesquisa acendeu o alarme no comando de campanha da candidata governista. Matthei passou a confrontar Bachelet em quase todas as suas intervenções: em debates, na propaganda eleitoral televisiva e nos eventos onde participa. Durante um jantar com empresários na quarta-feira (30), o discurso da ex-ministra se baseou na desconstrução do programa de governo da adversária socialista, e terminou definindo que, “nesta eleição, vamos escolher se preferimos as políticas econômicas deste governo (de Sebastián Piñera), para seguir no caminho de ser como a Alemanha de Angela Merkel, ou se queremos regredir ao modelo da Alemanha Oriental (em referência ao programa de Bachelet)”.
Mas a ofensiva não será só programática. Em entrevista à rádio Bío-Bío, o chefe de campanha de Matthei insinuou que, em breve, deverão surgir revelações contra a ex-presidente. Felipe Morandé, que foi ministro dos Transportes do atual governo, disse que “já gastamos nosso tempo com Parisi, agora é hora de cuidar de Bachelet” e que “a cidadania precisa saber todos os aspectos que envolvem a sua figura, antes de decidir se quer mesmo dar a ela essa segunda chance de governar o país”.
Quem também passou a priorizar a ofensiva contra Bachelet, e não contra os rivais na luta pelo segundo lugar, foi o candidato progressista Marco Enríquez-Ominami, que aparece na pesquisa CEP com 9%. Dissidente do Partido Socialista, o mesmo de Bachelet, Enríquez-Ominami aproveitou as jornadas de debate em rede nacional, que se realizaram neste meio de semana, para criticar a aliança da ex-colega de partido, que, segundo ele, colocam em cheque suas promessas de campanha.
Ao finalizar sua participação, Enríquez-Ominami disse que “o projeto de Bachelet fala em educação gratuita e uma nova constituição para o Chile, mas ela está numa aliança com o Partido Democrata Cristão e outros grupos independentes que sabemos que não querem isso, que já se manifestaram contra. Por isso, o meu compromisso com essas bandeiras é mais realista”.
Já liberal independente Franco Parisi (11% na pesquisa CEP) trocou alguns nomes da sua equipe de campanha, visando definir uma nova estratégia. Parisi, que nas últimas semanas esteve enfocado nos ataques contra Evelyn Matthei, onde buscava se aproximar do segundo lugar, quer agora reforçar suas diferenças com a ex-presidente.
Na coletiva após o primeiro debate da semana, na terça-feira (29), o economista disse que “Bachelet voltou ao Chile falando em renovação na política, mas ela e seus aliados de campanha representam essa velha política que quer manter as velhas práticas que a cidadania já não quer ver. Já a nossa candidatura representa a chegada ao poder dessa nova geração, sem os vícios ideológicos do passado”.
*Victor Farinelli é jornalista