Insegurança e convivência em grandes cidades latino-americanas
A segurança dos cidadãos, tema de renovada preocupação nas grandes cidades latino-americanas, também se instalou em Montevidéu, uma cidade vista por muitos como alheia à violência, o delito e o crime.
Por Jorge Luna*
Publicado 08/11/2013 10:43
Autoridades e peritos da região participaram na capital uruguaia na Primeira Conferência sobre Cultura e Convivência das Cidades da América Latina e expuseram experiências de cidades de países como México, Colômbia, Brasil, Equador e Argentina.
Instalada pelo ministro do Interior, Eduardo Bomoni, o evento se converteu em um intenso intercâmbio de medidas e critérios para enfrentar o avanço da insegurança e a instauração do medo entre os cidadãos.
A imprensa local recordou uma recente pesquisa sobre o tema, apresentado pelo ex-prefeito de Bogotá, Antanas Mockus, que surpreendeu as autoridades.
Indicava que, em face das taxas inferiores de delitos e homicídios em Montevidéu em comparação com o resto do continente, "a percepção de criminalidade é similar à das cidades mais violentas".
O tema é mencionado cada vez mais na imprensa, muitas vezes de maneira manipulada para criticar o governo, mas outras vezes, de forma objetiva, pois é provável que a insegurança seja parte importante do debate na campanha eleitoral do próximo ano.
Por exemplo, o projeto de programa da Frente Ampla, partido no governo, que aspira a seu terceiro mandato (2015-2020), recorda que "priorizou a segurança pública na gestão de governo".
O ministro Bonomi foi taxativo ao assinalar a necessidade de aplicar, de uma vez, políticas de segurança e sociais "já que as duas por separado fracassaram em todos os lados". Essa, particularizou, é a chave para melhorar a segurança. Alertou deste modo sobre a falta de confiança da cidadania nas instituições policiais em vários países (mencionou especialmente o México e a Colômbia) e expôs que "enfrentar os delinquentes só com políticas de segurança significa manter o problema”
Reiterou, nesse sentido, a conveniência de envolver a cultura e a convivência para enfrentar a insegurança.
Por sua parte, o vice-ministro do Interior, Jorge Vázquez, insistiu em gerar uma mudança cultural em prol da convivência cidadã que redunde em melhores relacione entre as pessoas e maior segurança.
"Melhorar as condições de segurança não passa somente por ter mais policiais, mais patrulheiros, mais armas, mais equipamentos, mas sim adotar medidas por uma melhor convivência; que os cidadãos se acostumem a viver em um clima de paz e tranquilidade", disse.
"Aqui não há soluções mágicas, o que temos de fazer é trabalhar sistematicamente, não evitar a responsabilidade que nos corresponde como Ministério do Interior e como a Polícia".
Peritos de Quito (Equador), Buenos Aires (Argentina), Medellín (Colômbia) e Cidade do México abrangeram temas como "Acione no espaço público como lugar de encontro e convivência" e "A promoção da cultura da legalidade nas cidades".
Na conferência de dois dias, a diretora da Unidade de Programas do Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Paula Veronelli, sustentou que na América Latina, "o medo termina afetando a qualidade de vida das pessoas".
Veronelli insistiu no fracasso das medidas repressivas e saudou o crescente uso da cultura e da convivência como vetores "para viver de forma pormenorizada em sociedade".
Depois de escutar os delegados, o presidente do Uruguai José Mujica, no encerramento do evento e em tom autocrítico, disse que o Uruguai "está bem quando o comparamos com o resto e está mal quando nos comparamos com nossa história".
Ao refletir sobre a insegurança, coincidiu na necessidade de combinar medidas policiais com sociais e chegou à conclusão de que "é necessário trabalho social, muito trabalho social e compromisso".
*Correspondente de Prensa Latina no Uruguai.