Sentimento anticomunista e antirruso recrudesce na Polônia

O 95º aniversário de independência da Polônia, comemorado esta semana, foi transformado pelas forças neofascistas em uma campanha de ódio e agressividade. Em Varsóvia, capital do país, o sentimento antirrusso levou a atos de vandalismo contra a embaixada do país vizinho, contidos apenas com força policial.

A manifestação, que redundou em confrontos, durou apenas uma hora e meia, tendo juntado milhares de pessoas, algumas das quais deram largas às suas frustrações ideológicas. Em frente ao Palácio da Cultura, os manifestantes cantavam lemas antirrussos e queimavam bandeiras do país vizinho.

O ódio em relação à Rússia, presente no século passado até a vitória das revoluções socialistas no leste europeu e contido até o fim da experiência socialista na região, é elemento constante das organizações da direita polonesas. Junto à este ódio antirruso há também o ódio ao socialismo e ao passado socialista do país.

Os apelos ao ódio, cultivados há já muitos anos, viraram uma parte integrante da educação escolar, soam da boca de políticos, se divulgam pela mídia e se propagam pelas forças de extrema-direita.

Essa relação de ódio com a Rússia e o passado socialista do país estão presentes também na linha política inspirada pela Polônia no relacionamento entre a UE e a Rússia. Até o chefe da diplomacia polonesa não esconde defender as posições anti-russas, algo sem precedentes.

Nenhuma manifestação orquestrada pelos neofascistas passa sem apelos anti-russos. O slogan "Vamos bater na gentalha vermelha com a foice e o martelo" tem sido entoado em quase todas campanhas e discursos públicos, vai soando durante os jogos de futebol e os retiros patrocinados pela emissora católica fascista Rádio Maria. E isto acontece ao longo de vários anos seguidos. A escalada do ódio atingiu o auge em pleno jogo de futebol entre as seleções russa e polonesa do Euro 2012.

Os sentimentos de ódio e repúdio, além dos campos de futebol, se notam ainda na Igreja Católica, que não deixa de evocar a catástrofe de Smolensk – na qual morreu em 2010 um dos presidentes do país – ou alguns outros acontecimentos históricos.

Assim, o púlpito das igrejas se transforma em tribuna política e os templos, em locais de acesas discussões por ocasião dos feriados nacionais do 3 de maio ou 15 de setembro, que coincidem com festas religiosas.

Quaisquer críticas dirigidas aos hierarcas têm sido encaradas, na maior das vezes, como um ataque à Igreja e os autores das críticas são vistos como inimigos a combater pela força das emoções. Cerca de um quarto dos poloneses, obcecados pelo desprezo e ódio ao país vizinho, continuam culpando Moscou pela catástrofe de Smolensk.

Vale lembrar que os atuais líderes poloneses – o primeiro-ministro e o presidente – são historiadores de profissão e antigos membros do reformista e traidor sindicato Solidariedade, braço direito da CIA dentro da Polônia no fim dos anos 1970 e que serviu, com a ajuda do Vaticano, para destruir o pouco do socialismo que havia no país.

Para eles, segundo disse o presidente Bronislaw Komorowski em seu discurso de 11 de novembro, a Polônia conquistou a independência duas vezes – em 1918 e 1989. Riscando o seu percurso profissional, estes líderes, cada um à sua maneira, vão cultivando o ódio em relação à Rússia.

Igualmente se ignora e se menospreza a contribuição dada pelo exército polonês que, nos anos da Segunda Guerra Mundial, combateu ao lado do Exército Vermelho.

Se rejeita ainda o período de reconstrução econômica do pós-guerra por ser explicitamente "soviético e totalitário”, com sua economia socialista e que tinha laços profundos com a comunidade de países socialistas europeus e, mais ainda, com a União Soviética.

A história é ensinada nos estabelecimentos de ensino poloneses pela ótica fascista. Até nas escolas primárias, os professores lecionam aos alunos lições de ódio em relação ao país vizinho e ao seu passado.

Os radicais da direita e os populistas são, na maioria, jovens privados economicamente da possibilidade legal de empregar devidamente a sua energia.

Para eles, na ausência de boas iniciativas esportivas escolares, o esporte se associa aos distúrbios nos estádios.

As aulas de educação religiosa superam, pelo número, as de educação física. A construção de novos campos de futebol no âmbito do programa governamental parece insuficiente. O esporte acadêmico tem sido acessível apenas a uma elite.

O esporte em massa para a juventude não se pratica, tendo este se tornado em uma espécie de atividade lucrativa. O movimento de jovens voluntários, em voga na época socialista, se reduz à ação de grupos de elite que especulam a ideia de patriotismo.

Uma das últimas causas também é a visão da liberdade como um fenômeno anárquico, que menospreza as normas éticas e legais. E aí, novamente, intervêm os dirigentes do país – deputados do parlamento, juízes desonestos, policiais indulgentes e clérigos contrários à ética.

Com informações da Voz da Rússia