Entre disputas, Irã e G5+1 preparam nova rodada de negociações

Embora as negociações sobre o programa nuclear do Irã com as potências mundiais e com a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) venham demonstrando progressos significativos, parlamentares estadunidenses e países como a França e Israel continuam defendendo o endurecimento das sanções impostas ao país persa há décadas. Nesta terça-feira (19), o presidente dos EUA, Barack Obama, deve reunir-se com membros do Congresso para debater a questão.

Irã e Grupo 5+1 - AP/Jason Reed

Obama tenta convencer os congressistas do seu país a frear qualquer medida punitiva contra o Irã, diante do empenho persa para avançar com as negociações sobre o seu programa nuclear com o Grupo 5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China, membros do Conselho de Segurança, mais a Alemanha).

Apesar de a mídia internacional ressaltar o fato de ainda não haver um acordo neste âmbito, o Irã tem apresentado propostas consideradas avançadas até mesmo por diplomatas europeus, e já assinou outro com a Aiea, garantindo aos inspetores internacionais maior acesso a instalações nucleares chave nos seus programas de energia e de fins médicos.

Obama diz temer que a imposição de mais sanções ao Irã afete as negociações com o G5+1, e as autoridades persas reiteram a necessidade de uma contrapartida do grupo em termos de construção da confiança.

Por isso, o presidente estadunidense deve reunir-se com parlamentares democratas e republicanos e com representantes do Comitê de Relações Exteriores do Senado, das Forças Armadas e do setor de Inteligência, de acordo com o diário The Hill.

O Irã é alvo deste tipo de políticas de punição há décadas, inicialmente impostas pelos Estados Unidos e, a seguir, pela própria Organização das Nações Unidas e pela União Europeia, sobretudo contra o setor financeiro persa e contra a sua exportação petrolífera. Além disso, em julho o Senado norte-americano aprovou outro pacote de sanções contra o setor automobilístico do país.

Continuidade dos diálogos

As conversações entre o Irã o G5+1 devem ser retomadas nesta quarta-feira (20), em Genebra, na Suíça.

Em coletiva de imprensa conjunta com o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, o secretário de Estado norte-americano John Kerry teria afirmado, de acordo com a emissora persa HispanTV, que não tem expectativas positivas sobre a conferência, mas que negociarão de “boa fé” e tentarão chegar a um primeiro acordo.

Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, assim como o seu ministro de Relações Exteriores, Serguei Lavrov têm dado declarações mais dedicadas, afirmando que o Irã está disposto a assumir compromissos substanciais para esclarecer dúvidas sobre o seu programa nuclear.

Putin defendeu que se aproveite a “possibilidade real” para sanar a questão, e Lavrov classificou de “substanciais” os passos que o governo persa está disposto a dar para cumprir as exigências da comunidade internacional. Em entrevista ao jornal russo Rossyskaya Gazeta, o chanceler disse também que a definição iraniana ocorre mais rápido que o esperado.

Propostas e críticas

Segundo Lavrov, os passos previstos são a suspensão do enriquecimento de urânio a nível superior a cinco por cento e limitar determinados parámetros para essas capacidades.

Já as críticas de países como Israel (que rechaça em tom agressivo o compromisso persa e chega a ameaçar atacar unilateralmente as suas instalações nucleares) alegam que as negociações são apenas uma forma de o Irã ganhar tempo para produzir uma bomba atômica, ponto de vista rechaçado por Lavrov, para quem esta é uma visão desvinculada da realidade.

O chanceler russo ressaltou que o Irã tem se mostrado disposto a avançar mais rápido nas negociações de Genebra, e a ir mais longe do que o G5+1 havia proposto, no início do ano. Além disso, também enfatizou que a Rússia e os EUA, assim como os outros participantes das negociações, não deixarão que qualquer ação ameace o regime de não proliferação nuclear.

O rascunho de uma proposta apresentada ao Irã em 9 de novembro pelo grupo inclui algumas imposições para um prazo de seis meses, com o aumento de inspeções às instalações nucleares, novas restrições ao enriquecimento de urânio (atualmente a 20%) e a suspensão das atividades do reator de água deuterada (componente da pesquisa sobre energia nuclear) em Arak.

Entretanto, essas medidas seriam correspondidas apenas com a eliminação de parte das sanções ao Irã, especificamente na liberação de parte dos ativos persas congelados em bancos estrangeiros e a extensão da venda de automóveis, metais preciosos e substâncias petroquímicas, de acordo com o portal Al-Monitor.

Por outro lado, Israel, que conta com um arsenal estimado entre 80 a 200 ogivas nucleares, não ratifica acordos para a regulação de armas de destruição em massa, em particular o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual o Irã é signatário. Além disso, apesar de ser membro da Aiea, também limita o acesso dos inspetores internacionais a instalações nucleares chave e não responde conclusivamente aos apelos da agência.

Ainda assim, suas “preocupações” securitárias, plasmadas nas alegações de que o Irã pretende atacar o país e desestabilizar todo o Oriente Médio, são consideradas realistas e classificadas de preocupações compartilhadas pelos próprios EUA e pela França. Ambos são detentores de armas nucleares e mantêm silêncio também sobre o arsenal israelense, cuja postura agressiva é vista como ameaça por virtualmente todos os vizinhos.

Com informações das agências,
Da redação do Vermelho