Hollande ignora crimes e avalia Israel como "grande democracia"

O presidente François Hollande, da França, desembarcou em Israel, neste domingo (17), com declarações de “amizade eterna” e afirmações duras contra o Irã, e foi saudado pelo presidente Shimon Peres e pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Israel e França têm se destoado do cenário internacional, que se dedica agora à aproximação diplomática com o governo iraniano. Além disso, Hollande disse entender as “preocupações securitárias” de Israel nas negociações com os palestinos.

François Hollande - Associated Press Photo

De acordo com o jornal israelense Ha’aretz, em sua primeira visita oficial a Israel, Hollande foi saudado por sua “posição dura” nas conversações com o Irã, sobre o seu programa nuclear. O chanceler francês Laurent Fabius, autor de declarações agressivas e propulsor empenhado da que foi uma iminente intervenção militar contra a Síria também compõe a delegação.

Netanyahu disse a Hollande que ele está liderando “uma posição corajosa contra as tentativas do Irã de adquirir armas nucleares”, e que o “sionismo foi influenciado pelos valores da Revolução Francesa”.

“Israel vê a França como uma verdadeira amiga. Como Israel, aspira por um Oriente Médio estável, que viva em paz e segurança”, embora o regime sionista seja interpretado como um dos fatores que causa maior instabilidade na região.

O programa nuclear israelense, que existe há décadas, entretanto, continua fora de pauta entre os meios de decisão. Ainda assim, Netanyahu afirmou que a França “entende bem” o perigo de elementos radicais “que não hesitam em usar o terrorismo e a violência”.

O premiê repete um discurso empregado com frequência pelo regime sionista para justificar a sua própria e extremada agressividade, com ofensivas militares e políticas opressivas institucionalizadas.

Ainda assim, Hollande saudou o país como “uma grande democracia” da qual deve-se ter orgulho, e disse, em hebreu, “sempre serei um amigo de Israel”, apesar das denúncias recorrentes, inclusive de agências da ONU, sobre a segregação, a discriminação oficial contra os não-judeus, a opressão dos palestinos em seus próprios territórios e a exclusão e marginalização dos árabes-israelenses.

“Dívida histórica” e colaboração

Já o presidente Peres apelou à histórica construção de uma identidade nacional sionista e à colonização da Palestina, com o apoio do Ocidente. Ele saudou Hollande “na Terra Sagrada” dizendo que “os cidadãos de Israel têm uma dívida histórica com a França pela sua ajuda na construção das forças de defesa de Israel, depois que o Estado foi formado”.

Além disso, disse que a “França da resistência ajudou a quebrar o embargo de armas contra Israel nos primeiros anos do nosso Estado”.

Ao chegar, Hollande declarou que a França leva a posição de Israel sobre o Irã seriamente, e que seu país não retrocederá na questão. “Até que estejamos certos de que o Irã não está desenvolvendo armas nucleares, não aliviaremos as sanções”, disse.

O governo israelense tem feito pressão neste sentido, principalmente contra os Estados Unidos, onde tem uma grande comunidade de lobby político. Os EUA mantêm sanções agressivas contra o Irã desde que, em 1979, a Revolução Islâmica derrubou o regime ditatorial e monárquico apoiado pelos norte-americanos.

A partir de 2005, a Organização das Nações Unidas e a União Europeia também passaram a impor duras sanções contra o sistema financeiro e a indústria petrolífera do Irã sob a alegação de que o governo persa estaria desenvolvendo armas nucleares, embora ainda não tenham sido apresentadas evidências.

Por outro lado, o Irã vem se empenhando em diálogos decisivos com o Grupo 5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, como membros do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha) e com a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), da qual é membro.

Além disso, como signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), ao contrário de Israel, o governo persa reitera o seu direito ao desenvolvimento de um programa nuclear de fins pacíficos, como o energético e o medicinal, enquanto a posse de armas nucleares por Israel continua inquestionada pelas agências impotentes.

Ainda assim, potências ocidentais como a França, os EUA e o Reino Unido continuam a retratar o Irã como grave ameaça à paz mundial, enquanto as políticas agressivas (práticas e discursivas) israelenses são postas como preocupações legítimas com a “segurança”.

De acordo com fontes da mídia israelense, a França envolveu-se diretamente nas pesquisas israelenses da década de 1960 e 1970, que levaram à produção de ogivas nucleares.

Embora Israel não tenha se declarado um Estado nuclear por questões estratégicas, diversos relatos de ex-pesquisadores ligados diretamente ao programa já confirmaram a existência do arsenal, mas a agência dedicada ao assunto, Aiea, continua sem acesso às principais instalações do país.

Com informações do Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho