Geraldo Galindo: Não há o direito ao contraditório na Rede Globo
A repercussão da prisão dos petistas condenados na Ação Penal 470 na grande imprensa foi o tema de um artigo escrito pelo dirigente estadual do PCdoB, Geraldo Galindo. A partir da edição do último dia 20 do Programa do Jô, da Rede Globo, que tratou sobre o assunto, Galindo denuncia a ausência do contraditório nas abordagens do maior grupo de comunicação do país e a perseguição sofrida pela esquerda brasileira. Confira.
Publicado 21/11/2013 15:11 | Editado 04/03/2020 16:16
As "meninas" de Jô e o "mensalão"
Na madrugada do dia 20 de novembro assisti ao Programa do Jô. Já sabia que ele convidaria as "meninas" (Ana Maria Tahan, Cristiana Lobo, Cristina Serra e Lillian Witte Fibe) e trataria do tema das prisões dos petistas condenados na Ação Penal 470. Imaginava também que tipo de discurso apareceria no debate. Os grandes meios de comunicação do Brasil repetem à exaustão a defesa da liberdade de expresão, da pluralidade, da democracia. Mas a liberdade que propugnam é exclusivamente para a veiculação de suas posições políticas, de oposição sistemática ao governo federal e uma perseguição impiedosa ao Partido dos Trabalhadores. Neste programa que cito, assim como todos os demais da Rede Globo, não há direito ao contraditório. As "meninas" do Jô, e o próprio, defendem as mesmas teses, as mesmas ideias, as mesmas opiniões. Para quem se julga defensora da pluralidade e da imparcialidade, a Globo deveria num programa desses ter no mínimo um dos debatedores com visões diferentes daquele pensamento único de satanizar e criminalizar as esquerdas. Mas não esperemos imparcialidade nem democracia de quem apoiou a ditadura militar e se enriqueceu com os favores dos generais.
Voltando ao programa, o apresentador e as quatro "meninas" – autênticas representantes de nossa perversa elite que nutre permanente ódio a um governo que melhorou a vida dos mais pobres e isso é inaceitável para essa casta de endinheirados – usaram mais de uma hora para festejar a prisão de José Dirceu e José Genuíno. O discurso apresentado pelos cinco é o mesmo de sempre: que os dirigentes do PT são corruptos, que assaltaram os cofres públicos e que merecem punição exemplar. Para eles, Joaquim Barbosa é um herói, que pela primeira vez colocou poderosos na cadeia. Lillian Witte Fibe chegou a dizer que a prisão no dia da proclamação da república inaugura uma nova república no Brasil. Essa fala dela me deixa a impressão de que a prisão ilegal dos dirigentes do PT daquela maneira espetacularizada pode ter sido combinada entre a própria Globo e o presidente do STF – um homem sabidamente vaidoso, vingativo, presunçoso e cujo filho é empregado da família Marinho.
Durante o programa, Jô abordava a situação de cada um dos presos. Quando chegou em Marcos Valério, uma das "meninas" disse que a situação dele era a pior de todas, pois, além da pena do chamado mensalão, ele deverá ainda responder pelo "mensalão mineiro". Aqui uma curiosidade: Eles não caracterizam o "mensalão" do PSDB como do partido no qual votam e fazem campanha, mas como "mineiro". E mais curioso ainda foi o fato de Jô Soares interromper de imediato o assunto para voltar ao "mensalão petista, como se tivesse recebido uma ordem superior para não desviar o foco dos ataques da emissora.
Em apenas um momento houve uma divergência pontual entre as felizes "meninas" que tripudiavam à vontade sobre o PT e o governo, dando gargalhadas e recebendo aplausos do auditório. Uma delas disse que só tinha uma discordância: o uso de algemas no avião que transportaria os presos. E foi imediatamente rebatida por outra que foi reforçada pelo apresentador, de que era necessário por questão de segurança. E Jô disse que caso não estivessem algemados, algum poderia usar um garfo para forçar o piloto a desviar o voo para Cuba.
Se sabe que eminentes personalidades políticas e jurídicas têm feito críticas duras à condução truculenta e arrogante por parte de Joaquim Barbosa durante todo o processo do "mensalão". Umas das críticas foi a transferência dos presos para Brasília, quando deveriam cumprir as penas nos estados onde residem – e secundariamente foi levantada a questão dos gastos dessas transferências ilegais. Jô e suas "meninas" só levantaram esse aspecto secundário de todas denúncias dos vícios e atropelamentos da Ação Penal perpetradas pelo já chamado "tirano togado"". E a partir daí, disseram que foram os presos que teriam questionado os tais gastos e passaram a desqualificá-los como ladrões que roubaram milhões dos cofres públicos que estariam preocupados agora com uma pequena despesa. Tudo isso à base de chacotas, gargalhadas – um verdadeiro linchamento de pessoas sérias e honradas. Esses caluniadores de plantão são os mesmos que não se manifestam, porque submissos e bem assalariados, à gigantesca sonegação fiscal patrocinada pela Vênus Platinada, cujos valores superariam mais de dez "mensalões".
Quando o presidente Lula disse na Argentina que a mídia no Brasil funciona como um partido político, ele foi alvo de ataques nos programas da Rede Globo, inclusive por uma das "meninas". O presidente tem razão. Na verdade, a grande mídia brasileira é uma extensão do conglomerado (PSDB, DEM-PPS). É angustiante para os patriotas e democratas que lutaram contra a ditadura conviver com esse tipo de situação – ver o povo brasileiro assistir, sem direito ao contraditório, a grande imprensa mentir acintosamente e ainda festejar com deboches e provocações a prisão política daqueles que dedicaram suas vidas à luta pela melhoria da qualidade de vida de nosso sofrido povo. E essa angústia é maior ainda quando sabemos que, passados 10 anos de governos petistas, nada, rigorosamente nada, foi feito para enfrentar os barões da mídia. Dessa maneira, a afirmação de Lula, correta, soa evasiva na medida em que o próprio e a presidente Dilma não se empenharam ou não tiveram coragem de enfrentar uma questão de fundamental importância para que tenhamos uma verdadeira democracia.
(*) Geraldo Galindo é da direção estadual do PCdoB-BA