EUA infiltraram na Al-Qaeda espiões recrutados em Guantânamo

De acordo com informações apuradas pela agência Associated Press, os Estados Unidos recrutaram espiões, entre os prisioneiros mantidos reclusos na base naval de Guantânamo, para atuarem como agentes duplos fornecendo informações úteis para que a CIA localizasse líderes terroristas da Al-Qaeda que posteriormente seriam assassinados com o uso de drones.

Imagem da "Penny Lane", onde ficavam os agentes da CIA, retirada do Google Maps

A revelação foi feita com base em relatos de servidores públicos atuais e aposentados à agência. O programa foi batizado de Penny Lane (a famosa canção dos Beatles).

A uma pequena distância dos escritórios administrativos do centro de detenção de Guantânamo, a CIA construiu oito pequenos centros que conhecidos como Marriot. A adesão de espiões ao programa se deu por causa das vantagens oferecidas, como cama com colchão de verdade, banheiro com privadas, cozinhas, chuveiros, TVs, terraço e até pornografia, o que contrastava com o "regime espartano" imposto nas celas dos presos comuns.

O plano Penny Lane foi executado entre 2003 e 2006, e tinha como objetivo infiltrar esses presos (pagos pela CIA) em organizações que o governo norte-americano classificava como "terroristas". Os "espiões" participavam dos grupos em seus respectivos países e eram convertidos em informantes dos EUA.

Uma visão de Camp X-Ray em Guantanamo Bay EUA Base Naval |Foto: Reuters – Deborah Gembara)

Infiltrar-se na Al-Qaeda foi um dos objetivos mais buscados pela CIA – e mais difíceis de alcançar. Algo que serviços de inteligência de outros países apenas ocasionalmente conseguiram. Os candidatos de Penny Lane tinham de ter ligações reais com terroristas. Para ser valiosos para a CIA, tinham de ter condições de se reintegrar à Al-Qaeda.

Os funcionários afirmaram, no entanto, que a Al Qaeda sempre esteve ciente de que um programa desse tipo estava em operação, por isso sempre desconfiou de qualquer um que voltasse, principalmente os mantidos em Guantânamo.

Os prisioneiros concordaram em trabalhar para a CIA, em troca de diferentes motivos, como por exemplo, segurança e conforto financeiro para suas famílias. A CIA pagou milhões de dólares para esses agentes através de uma conta bancária, apelidada como “Pledge”.

Segundo o jornal El País, em reportagem publicada na terça-feira (26), "A espionagem não estava isenta de riscos, e altos, já que sempre existia a possibilidade de que, uma vez postos em liberdade em seus países, esses homens traíssem a agência de inteligência e conspirassem contra os EUA".

Não existem cifras exatas sobre o número total de presos que foram recrutados para a operação Penny Lane, mas se estima que apenas uma dúzia foi considerada; dela, uma pequena fração acabou trabalhando para a CIA. Outros deixaram de dar informações úteis e sumiram. No seu auge, Guantânamo chegou a abrigar 779 presos. Hoje, 166 homens estão presos em suas dependências.

Da Redação do Portal Vermelho,
com agências