Israel constrói colônias enquanto "libera" terras palestinas para Usaid

Residentes da vila de Al-Mazra'a al-Qibliya, próxima a Ramallah, na Cisjordânia, assistem à perda de suas terras, enquanto escavadeiras israelenses já iniciaram a preparação do local para a construção de mais uma colônia ilegal. Já nesta quarta-feira (4) o jornal israelense Ma’ariv informou que Israel “permitirá” aos palestinos usar suas próprias terras, no contexto de um programa de desenvolvimento com a agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).

Colônia israelense - Middle East Monitor

No início da semana, Abdullah Ladadwa, chefe da municipalidade de Al-Mazra'a al-Qibliya, disse à agência de notícias Reuters que, “em 2007, Israel confiscou centenas de acres das terras palestinas, citando leis vencidas, sob o pretexto de que elas foram abandonadas e não seriam trabalhadas. Eles deram as terras a colonos, que plantaram uvas.”

“Residentes e proprietários da terra receberam um prazo de 60 dias para apelar da decisão de transformar os campos em colônias”, disse. “Entretanto, isso é apenas uma formalidade, e não vale o papel em que está escrita, já que as escavadeiras já começaram a nivelar a terra e a instalar casas móveis, antes da construção de prédios permanentes.”

Além disso, denúncias reiteradas sobre a burocracia propositalmente complexa e paralisante exigida pelas autoridades israelenses para qualquer “apelo” dos palestinos demonstram que, de fato, os moradores dificilmente terão qualquer resultado.

Novamente, Israel está impondo um fato sobre 30 famílias que são proprietárias dessas terras, explica Ladadwa. “Quando terras foram confiscadas em 2007 para propósitos agrícolas, não temíamos que as perderíamos, mas hoje, com o começo da construção da colônia, parece que as perderemos para sempre.”

“Qual é o sentido de tornarmo-nos um Estado não-membro das Nações Unidas se Israel vai continuar a confiscar as nossas terras e a construir colônias nelas?” Ladadwa também ressalta que, como as colônias trarão mais soldados para garantir a sua “segurança”, as autoridades israelenses também passarão a controlar as colinas que cercam a vila.

Cerca de 40% da Cisjordânia ocupada tem sido destinada, por Israel, para a construção de colônias e da sua infraestrutura. Com 170 assentamentos ilegais, de acordo com o portal Middle East Monitor, cerca de 500.000 colonos vivem em territórios palestinos ocupados, e quase 200.000 deles em Jerusalém.

“Permissão” de uso das suas próprias terras

O jornal israelense Ma’ariv noticiou, nesta quarta, que cerca de 2.000 hectares da Área C, na Cisjordânia, controladas militarmente por Israel, serão liberadas para um projeto de desenvolvimento econômico da Usaid com a Autoridade Nacional Palestina (ANP).

De acordo com a reportagem, o Ministério de Defesa israelense, que gere a ocupação militar dos territórios, concordou em acelerar o processo para que as permissões administrativas sejam emitidas em até 90 dias.

A matéria, cuja linguagem de legitimação da ocupação é criticada pela revista eletrônica independente +972, afirma que Israel decidiu consentir com os planos “para demonstrar que não está obstruindo o desenvolvimento econômico palestino”, segundo as “fontes oficiais” que cita.

       Foto: AFP
    
         Um agricultor palestino é detido por um soldado israelense enquanto protesta, ao tentar chegar a terras palestinas
         para apanhar azeitonas, perto da cerca da colônia israelense de Karmi Tsour, no norte da Cisjordânia.

“Para acalmar a audiência doméstica de Israel, essas mesmas autoridades ‘não nomeadas’ dizem que as terras em questão não estão sequer próximas à barreira de segurança, colônias judias ou qualquer outra coisa estrategicamente importante para Israel”, afirma o artigo de Mairav Zonszen, na +972. A “barreira de segurança” é, de fato, um muro de concreto atualmente em quase 600 quilômetros de extensão e de oito metros de altura em grande parte dessa extensão, com intervalos de cercas de arame.

De acordo com o Ma’ariv, entretanto, ressalta a jornalista, outro “oficial da Defesa israelense” garantiu que as terras não serão, de fato, transferidas para o controle da Autoridade Palestina, mas serão mantidas sob a “soberania israelense”. Segundo ele, Israel não se oporá a iniciativas dos EUA “para ajudar [os proprietários palestinos] em agricultura e outras áreas”. É de se ressaltar que essas terras são, realmente, de propriedade palestina privada.

Embora anuncie planos de desenvolvimento econômico e parcerias diversas com a Autoridade Palestina, os Estados Unidos continuam mantendo uma política de negligência prática completa sobre a ocupação israelense dos territórios palestinos. O anúncio constante de construção ou expansão das colônias, inclusive em tempos de negociações relançadas pelos próprios EUA demonstra o descompromisso que estende o processo de paz e a desapropriação palestina.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho