Em protesto, palestino decora árvore com granadas dos EUA

Um homem foi detido em Belém, na Cisjordânia, nesta quinta-feira (5), por ajudar na “decoração” de uma árvore com granadas de gás lacrimogênio e de efeito moral e munições de fabricação estadunidense, anteriormente usadas pelas forças israelenses contra manifestantes palestinos. De acordo com a agência de notícias Ma’an, Mustafa al-Arraj disse que as autoridades palestinas detiveram-lhe sob a acusação de “vandalismo com o objetivo de destruir o Natal”.

Belém Natal com granadas dos EUA - Maan

Al-Arraj disse que as autoridades pensaram que seu objetivo era de “destruir a temporada do Natal”. Durante a ação, na segunda-feira (2), os ativistas decoraram a árvore da Praça Manger com armas de produção norte-americana e sinais de “agradecimento” aos EUA pelo fornecimento de recursos usados para ataques contra os manifestantes palestinos.

Desde o início oficial da temporada natalícia, nesta semana, a municipalidade de Belém está colocando sinais na praça sobre a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e sobre o governo estadunidense, que repassou milhares de dólares à gestão para a compra de decorações de Natal, de acordo com a Ma’an.

Os ativistas afirmaram que seu protesto é contra a Usaid e ressaltaram que a agência representa o mesmo governo que financia a ocupação israelense e ataca os manifestantes palestinos.

O porta-voz da polícia de Belém negou que o ativista tenha sido preso pela tentativa de “destruir o Natal” e ressaltou que o protesto chamou a atenção das autoridades porque envolveu “pendurar granadas em árvores”, já que “temiam que elas poderiam ferir pessoas”.

“Esta é uma cidade turística, e não uma para granadas”, enfatizou. Al-Arraj respondeu, porém, que o propósito da ação era justamente “ajudar as pessoas da Área A a lembrarem-se que a ocupação existe”.

O ativista refere-se à porção que corresponde a menos de 20% da Cisjordânia e que, segundo os Acordos de Oslo, ficaram sob a administração civil palestina, enquanto a Área C é administrada civil e militarmente pelos israelenses, uma situação que deveria ter sido temporária.

“Tantos estrangeiros vêm para cá, e isso parece tão bom e festivo, enquanto as pessoas estão recebendo tiros a 20 minutos de distância, no [campo de refugiados de] Aida”, disse o ativista, em referência a uma região que registra confrontos quase diários entre palestinos e forças israelenses, próxima a Belém.

“Não vamos apenas pegar dinheiro dos EUA, agradecer e nos calar”

Al-Arraj diz suspeitar que alguém ficou insatisfeito com o protesto e quis garantir que não houvesse críticas públicas à Usaid durante a temporada do Natal.

“Sim, a Usaid dá dinheiro para coisas boas, como hospitais e escolas. Mas este é o festival mais importante de Belém”, disse ele, ressaltando que as cerimônias eram antigamente realizadas por companhias palestinas.

Expor faixas de propaganda da Usaid foi uma verdadeira “provocação”, afirmou. “Eles nos ajudam com escolas e hospitais, mas também nos ocupam. Os Estados Unidos são cúmplices da ocupação israelense.”

“Eles dão um milhão de dólares para algum projeto e também dão a Israel um milhão para acertarem-nos com gás lacrimogênio e atirarem contra nós. As pessoas estão apanhando e sendo atacadas diariamente”, ressaltou, dizendo que queria “mostrar o outro lado dos estadunidenses neste país.”

“Não vamos apenas receber o dinheiro dos EUA, agradecer, e nos calar,” disse. A influência da Usaid é ressaltada em diversas situações como um instrumento de ingerência política e de pressão favorável à agenda norte-americana. No caso palestino, significa a manutenção da dependência financeira dos palestinos, sob ocupação, e a ferramenta para a pressão por concessões favoráveis a Israel.

Com Ma'an,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho