Duarte Nogueira: reforma política para o teu machismo!

Quando um político homem emite uma opinião política, ela é "política". Por que, então, quando uma mulher emite uma opinião política ela é acusada de ter outra razão ou qualidade que não a política?

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Talvez a explicação para tal comportamento deplorável esteja na cultura machista. Isto mesmo: o machismo. Algo que ainda está arraigado em todas as estruturas da sociedade e, inclusive, no Congresso Nacional! Algo que serve como fator de atraso e para a manutençao do "status quo” de uma sociedade adoecida por um sistema que funciona para a exploração, e que assim promove as desigualdades de todo o tipo, a miséria, a fome e a violência, e as desigualdades de gênero.

Nesta quarta (04), no Congresso Nacional em Brasília, o deputado Duarte Nogueira (PSDB/SP) protagonizou uma cena lamentável. Durante uma audiência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no Senado, vejam só, em um debate acerca do escandaloso cartel do metrô de São Paulo, resolveu atacar a opinião — eminentemente política — da líder do PCdoB na Câmara, a deputada Manuela d'Ávila, tentando desqualificá-la. Em seu tratamento, desdenhou da opinião de Manuela como se esta não tivesse valor político. Mas, o pior é que o próprio deputado não usou de argumentos políticos em sua pobre reação. O que está por trás disso é o velho pré-conceito, inaceitável e condenável sob todos os aspectos.

Não consigo imaginar que, para o nobre deputado, tenha apenas faltado argumentos no debate, pois é claro que não se dirige assim aos seus colegas de calças. Falou com uma mulher e usou deste velho expediente. O mesmo machismo que contribui para sustentar uma cultura opressora, que serve a uma sociedade desigual e que interessa a alguns poucos. O mesmo pré-conceito que sinda outro dia, infelizmente, condenou a Fran por gostar de sexo e que, lamentávelmente, matou a Giana de Veranópolis, o mesmo que bateu na Maria da Penha.

O machismo que atingiu a minha amiga e líder do meu partido é o mesmo que nós mulheres convivemos todos os dias na rua, no trabalho, na sala de aula, dentro do ônibus e do metrô lotado, e em muitos casos mora na mesma casa. Só que neste caso que estou relatando há uma diferença. Uma única e grande diferença: nesse caso foi no parlamento, onde as mulheres representam apenas 8,7% do total de deputados. Mas, por que é assim? Porque as regras do jogo favorecem os que tem mais dinheiro, porque a maioria dos partidos não promove mulheres, porque as grandes empresas que financiam a política brasileira são chefiadas por homens.

Na vida real, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 37,3% das famílias são comandadas por mulheres. Ainda, segundo o mesmo IBGE, em um estudo publicado em agosto deste ano, as mulheres recebem 28% a menos que os homens, mesmo tendo mais tempo de estudo e qualificação profissional.

Digo isso, portanto, para concluir que também precisamos combater o machismo na política, onde, afinal, ele é tão nitidamente presente, vide este exemplo. O caminho: uma reforma política democrática, que acabe com o financiamento privado de campanhas e garanta uma representação mais igual e feminina no Congresso Nacional. Eu quero muitas Manuelas, Frans, Marias, Anas, Tatis, Marcelas, Renatas no Congresso. Não quero mais pré-conceito!

Cris Ely
Publicitária
Secretaria de Juventude do PCdoB RS