Indígenas realizam cúpula continental em defesa da Pachamama

Quatro mil representantes indígenas do continente americano reuniram-se na Colômbia onde participaram da Cúpula Continental na qual articularam propostas em defesa da Pachamama (mãe terra) e expressaram rejeição ao modelo econômico neoliberal imperante.

5ª Cúpula Continental dos Povos Indígenas realizada na Colômbia de 10 a 16 de novembro

Reunidos em novembro durante uma semana no Cauca colombiano, líderes de mais de 40 etnias de 17 países defenderam a construção de um paradigma social sustentado no bom viver, nos direitos da mãe-terra e da plurinacionalidade.

Do Chile, Argentina, Suriname, passando pela Guiana, Bolívia, Peru, Equador, Panamá, até o Canadá, os indígenas ratificaram seu compromisso de seguir resistindo "com ações coletivas de luta diante da exclusão histórica e sistemática contra o enfraquecimento de nossos direitos por parte dos Estados e a sociedade dominante".

Os mapuches chilenos, os arhuacos, embera e wayúus colombianos e os guaranis paraguaios insistiram na necessidade de frear o atual modelo econômico que impõe políticas de desalojamento e saque dos bens comuns em seus territórios com mecanismos como Tratados de Livre Comércio (TLC) e Tratados Bilaterais de Investimento (TBI).

Também expressaram rejeição a esses modelos que, através de seus governos, radicalizaram a política econômica extrativista em aliança com empresas multinacionais para a continuidade do modelo capitalista.

"O modelo predador e de exploração irracional pôs em risco a vida e a vigência de todos os seres do planeta, e os governos até o momento não contam com políticas nem estratégias para contrabalançar os impactos da mudança climática e seus efeitos", ressaltaram.

Organizada com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Cúpula foi uma jornada preparatória tendo em vista a I Conferência Mundial sobre a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas de Nações Unidas, no próximo ano.

Na declaração final houve mensagens de amor e esperança para a Colômbia, que desenvolve um processo de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (Farc-EP), que procura pôr fim a um conflito armado de mais de cinco décadas.

Fazemos votos para que a paz chegue à Colômbia e a todos os povos indígenas do mundo e a exortamos a incluir neste processo a participação, propostas e aspirações dos povos indígenas em um marco de justiça social, manifestaram.

Os líderes dos povos originários discutiram sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio propostos pela ONU e definiram seus próprios objetivos: proteção e defesa do território; autodeterminação, autonomia e governo próprio; desenvolvimento próprio, bom viver, equilíbrio e harmonia; consulta prévia e consentimento livre e informado e transformação das instituições.

A voz dos mais jovens e das mulheres também se sentiu nesta Cúpula do Abya Yala, na qual primou um repúdio total aos TLC, à mineração industrial a grande escala e ao uso de sementes transgênicas que estão afetando o mundo.

Os assistentes cumprimentaram as ações coletivas e judiciais implementadas pelos povos indígenas da Amazônia do Equador em sua luta contra a empresa petroleira Chevron-Texaco, por sua incidência na contaminação ambiental e impactos sociais, territoriais e culturais.

Também condenaram a atuação da Corte de Constitucionalidade da Guatemala que anulou a condenação de 80 anos de prisão ao ditador Efraín Rios Montt por "genocídio contra o povo maia", em carta ditada pela Corte Suprema de Justiça.

Em sua mensagem final manifestaram seu respaldo e solidariedade com o povo cubano "por sua "histórica luta contra o bloqueio econômico imoral imposto pelo império dos Estados Unidos", e demandaram a imediata liberdade dos cinco antiterroristas da ilha presos em prisões estadunidenses faz 15 anos.

Entre as iniciativas aprovadas, as comunidades originárias decidiram declarar o dia 12 de outubro como o Dia da resistência continental "contra o capitalismo extrativista e o saque dos bens naturais pela grande mineração, a exploração petroleira, o gás e os megaprojetos".

E ainda pediram às Nações Unidas uma Declaração Universal dos Direitos da Pachamama (mãe terra) em sua próxima Conferência de 2014.

"Hoje mais que nunca a Mãe Terra nos convoca a seguir defendendo-a ao longo e largo do Abya Yala (continente americano), e nós não podemos ser inferiores a esse mandato e objetivo", postulou o Conselheiro Maior da Organização Nacional Indígena de Colômbia, Luis Fernando Arias, um dos anfitriões do encontro.

Fonte: Prensa Latina