Para peritos, acordo entre Chipre e Egito é fachada para Israel

A visita do presidente do cipriota Nicos Anastasyades ao Cairo suscitou uma grande onda de discussão sobre a importação egípcia de gás israelense através do Chipre. A causa da confusão foi a contradição entre as declarações feitas à imprensa, na sexta-feira (13), pelo primeiro-ministro interino do Egito, Hazem Beblawi, e as do Ministério do Petróleo no seu gabinete. Segundo Beblawi, seu encontro com Anastasyades não tocou na importação de gás israelense via Chipre.

Chipre e Egito - Cyprus Mail

As declarações do premiê interino do Egito também contradisseram informações da Agência de Notícias Anatólia, que citou uma autoridade do Ministério do Petróleo egípcio afirmando que o país norte-africano “propôs à parte sul do Chipre a compra de quantidades de gás, assim como o processo de liquefação, nas plantas egípcias, do gás encontrado nos campos cipriotas do Mediterrâneo.”

Esta declaração reforça a suspeita de que o gás de que falam é de Israel, já que o Chipre ainda não está preparado para exportar.

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A autoridade egípcia, cuja identidade não foi divulgada pela Anatólia, explicou que o Cairo está “procurando liquefazer o gás cipriota nas plantas localizadas em Dumyat e Idco, na costa mediterrânica, ao norte do Egito” e que o país “tem uma capacidade enorme não utilizada para a liquefação do gás nessas duas plantas. As companhias cipriotas de produção de gás podem usar estas instalações, e o que falta é um gasoduto cujo custo seria muito menor do que o da construção de unidades de liquefação no próprio Chipre.”

Essas afirmações contrapõem-se às declarações anteriores feitas pelo ministro egípcio do Petróleo, Sharif Ismail, que disse que o Egito “decidiu entrar em negociações sérias com o Chipre em troca da utilização do petróleo bruto localizado na região de Idco.” Vale ressaltar que o Chipre não pode exportar gás, atualmente.

Foi isso o que levou vários especialistas do setor energético a acreditar que o gás a ser exportado ao Egito é israelense, com um rótulo cipriota. Pouco antes, as declarações do ministro israelense da Infraestrutura, Silvan Shalom, e de seu antecessor, Binyamin Eleizer, confirmaram a busca de Israel por exportar gás ao Egito, à Jordânia, à Autoridade Palestina e à Europa. O gás seria processado nas instalações egípcias, em Dumyat.

Segundo uma fonte próxima às autoridades envolvidas, em declarações ao portal da organização “Arabi 21”, a visita do presidente cipriota ao Cairo, na quinta-feira (12), tinha como objetivo a finalização das discussões.

O Instituto de Washington para Estudos sobre o Oriente Próximo havia publicado antes um estudo científico sobre a exportação de gás israelense. Simon Henderson, um pesquisador especializado em questões energéticas foi citado dizendo que a companhia israelense “Dilik” informou à bolsa de valores de Tel Aviv, em agosto, que havia discutido o envio de gás israelense às plantas de liquefação do Egito, através de um gasoduto que se estenderia de Ashkelon a Arish.

O projeto, de acordo com Henderson, teria sido impossível no governo do presidente Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana, deposto em julho pelo Exército. A destituição teria possibilitado a discussão do assunto, segundo o pesquisador.

Fonte: Middle East Monitor
Tradução da redação do Vermelho