República Centro-Africana: Maioria na França é contra operação

Cerca de 60% dos franceses opõe-se à intervenção do seu país na República Centro-Africana (RCA), de acordo com uma pesquisa divulgada neste sábado (4) pelo Instituto de Análise e Opinião. A pesquisa, publicada pelo diário Sud-Ouest Dimanche, reflete que o apoio à chamada Operação Sangaris, iniciada em dezembro, não tem apoio da maioria na França.

No mês passado, outra pesquisa mostrara que a opinião estava dividida, com 51% que apoiavam o envio de tropas francesas ao país africano. A pesquisa atual viu este índice diminuir para 41%, frente a 59% que estão contra a participação na operação.

O instituto atribui a oposição a diversos fatores, como o efeito do cansaço dos cidadãos depois da participação em outras intervenções no exterior, nos últimos anos: Afeganistão, Costa do Marfim, Líbia e Mali, ainda ativas. Outro fator é a falta de clareza sobre o conflito na RCA, “com objetivos de guerra e inimigos pouco identificáveis”, ressalta o Ifop.

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No último 5 de dezembro, o presidente François Hollande anunciou o envio de 1.600 soldados franceses à sua antiga colônia, depois de o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas ter autorizado a operação. Embora esta seja a única instância que pode permitir o uso da força, entretanto, a França já havia lançado a Operação Serval contra o Mali em janeiro, sem essa autorização.

Segundo as autoridades francesas, a intervenção será rápida, e seu objetivo é restabelecer a “ordem e a segurança” no país, que vive uma situação de implosão, desde um golpe de Estado, em março. Entretanto, um ano depois do lançamento da operação contra o Mali, que também seria “rápida”, a França continua mantendo tropas no país, agora no âmbito da missão internacional.

Em uma entrevista concedida na sexta-feira (3) ao diário francês L’Humanité, o ex-ministro senegalês Amath Dansokho questionou a eficácia das intervenções militares da França no continente africano para resolver graves problemas de determinados países. O impulso neocolonial europeu vem sendo denunciado por diversos observadores críticos das intervenções militares.

Dansokho destacou a persistência dos interesses econômicos e geoestratégicos das potências por trás das justificativas “humanitárias” para essas empreitadas. No Mali, na RCA e em muitas outras nações africanas, Estados vulneráveis e instituições frágeis são mantidos assim pelos efeitos do colonialismo e a ingerência constante das potências externas, com políticas neoliberais impostas desde fora, recordou.

Da redação do Vermelho,
Com informações da Prensa Latina