Nafta: Camponeses e indígenas denunciam 20 anos de destruição

A rede The Real News transmite uma entrevista, neste domingo (5), com Gustavo Esteva, coordenador da Universidade da Terra, em Oaxaca, no México, sobre as advertências do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) contra o Acordo Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta, na sigla em inglês). Segundo Esteva, também conselheiro dos zapatistas nas negociações com o governo do México, as advertências verificam-se hoje, principalmente com a degradação do trabalho no campo em seu país.

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Grande parte da mídia estadunidense comemora os 20 anos do Nafta, o acordo que derrubou barreiras comerciais entre o México, o Canadá e os Estados Unidos, prometendo criar empregos e crescimento econômico sustentável.

Mas outro aniversário, também de 20 anos, está recebendo menos atenção, ressalva Jaisal Noor, produtor de The Real News. Em 1º de janeiro de 1994, o levante zapatista foi lançado no estado mexicano de Chiapas, no sul do país. Camponeses maias dão depoimentos, no vídeo, sobre as advertências que os zapatistas fizeram contra a globalização liderada pelas grandes companhias, como o Nafta, e seu destino de destruição das já empobrecidas comunidades indígenas no México.

Como resposta, exigiam autonomia local e acesso à terra, saúde, alimentação, educação e trabalho, como direitos fundamentais. “Mas, 20 anos depois, enquanto a maior parte da imprensa está saudando o México como grande beneficiado pelo Nafta, a mensagem dos zapatistas está se evidenciando como verdade. Importações subsidiadas de alimentos dos EUA inundaram o México, custando o sustento de mais de dois milhões de trabalhadores mexicanos,” diz o documentário.

De acordo com Esteva, na entrevista, a associação do levante zapatista com a assinatura do Nafta é clara. Em 1992, como pré-condição para a assinatura do acordo, houve uma reforma constitucional que eliminou a última proteção aos povos indígenas e aos camponeses mexicanos. “Era a possibilidade de terem terras e manterem aquela terra fora do mercado”, explica.

Por causa do levante zapatista, diz Esteva, a questão indígena voltou ao topo da lista de prioridades no México. Até então, a questão havia quase desaparecido do debate político.

Além disso, sua luta trouxe propostas alternativas à globalização neoliberal já intensa à época, com a aceitação generalizada. “Os zapatistas foram um chamado à atenção. Todos os movimentos antissistêmicos hoje reconhecem isso. Eles nos dizem, você sabe, você pode dizer não, e nós podemos dizer ‘basta’ a este terrível prospecto de neoliberalismo.”

Para Esteva, o principal impacto do Nafta é “a produção dos homens mais ricos do mundo, e alguns dos mais pobres,” ambos de condições mutuamente dependentes. O ativista indica que a última estimativa revelou um terço dos mexicanos vivendo fora do país, um dos processos migratórios mais expressivos da história recente, com o número de pobres aumentando continuamente no próprio México.

A principal produção mexicana é o milho, mas o país importa, atualmente, um terço do milho que consome, “produzindo muito dano aos camponeses e, principalmente, para as comunidades indígenas.” Por causa do Nafta, diz Esteva, o governo garantiu 50 anos de concessões de terras a companhias estrangeiras e, por isso, precisa “limpar o povo da terra”. Por outro lado, é claro, o povo indígena “está resistindo à agressão e à destituição dos seus meios de subsistência, da possibilidade de viverem as suas próprias vidas.”

“Isto é o Nafta, para nós. É uma situação muito real que nos trouxe o pior tipo de resultados que sofremos na nossa história,” continua. “Estamos diante da possibilidade de ter o pior tipo de guerra civil, ou seja, o tipo em que você não sabe quem está lutando contra quem. Estamos em meio à miséria extrema, à violência extrema, com muitos mexicanos impossibilitados de viverem seu próprio país.”

Da redação do Vermelho,
Com The Real News