Sudão do Sul vê aumento da violência e negociações têm início

O presidente do Sudão, Omar al-Bachir, viaja a Juba, capital do Sudão do Sul, nesta segunda-feira (6), para discutir com o seu homólogo, Salva Kiir, sobre o conflito armado com os rebeldes, partidários do ex-vice-presidente Riek Machar. As negociações de paz entre os dois lados em confronto iniciaram-se neste domingo (5), na sede da União Africana, na Etiópia, com um grande atraso, enquanto os combates continuam no terreno.

Sudão do Sul - Reuters

Segundo os rebeldes, um general do Exército do Sudão do Sul teria sido morto, no domingo, em combates em torno da disputada cidade de Bor, capital do estado petrolífero de Jonglei. A notícia foi desmentida pelo ministro da Defesa em Juba, entretanto. “Não existe nenhum general chamado Lual Mayok”, afirmou o ministro Kuol Manyang Juuk, pondo em causa a informação avançada pelos partidários do ex-vice-presidente, Machar.

Na noite de sábado (4), o secretário de Estado norte-americano John Kerry tinha apelado às duas partes em confronto armado já há três semanas para que não “utilizem as negociações como uma táctica para ganhar tempo”. O início das conversações em Adis-Abeba, capital etíope, foi sendo adiado durante o dia devido a “questões protocolares”, relata a AFP.

Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, dezenas de milhares de pessoas fugiram do estado de Jonglei e atravessaram o Nilo Branco para se refugiarem no estado vizinho de Lagos. Há também relatos de abusos, homicídios e massacres.

Segundo a mídia internacional, os confrontos assumiram uma dimensão étnica: a rivalidade entre Salva Kiir e Riek Machar manipula e exacerba os antagonismos entre o povo Dinka, de Kiir, e Nuer, de Machar, mas analistas políticos ressalvam que a centralidade da disputa é política e econômica, neste estado rico em petróleo.

Há cerca de 200 mil sul-sudaneses forçosamente deslocados, segundo a Organização das Nações Unidas, e muitos procuraram refúgio precisamente nas bases da missão da ONU no terreno. Os combates estenderam-se a grande parte do país – nos estados produtores de petróleo de Unity e também no Alto Nilo, no norte, que caíram nas mãos dos rebeldes, disse o porta-voz do Exército, Philip Aguer, à AFP.

Aguer reconheceu que tem havido uma grande quantidade de deserções no exército. A emissora britânica BBC diz que “o exército combate contra o exército”, com a divisão dos soldados de acordo com a sua etnia, o que evidencia a manipulação das questões identitárias.

O Sudão do Sul conseguiu a independência do Sudão em 2011, após um longo período de guerra interna, através de um referendo acordado ainda em 2005. Desde então, a ONU mantém tropas no terreno, a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (Minuss), que conta com cerca de sete mil soldados e 700 policiais, principalmente da União Africana.

O avanço da violência colocou países vizinhos em alerta. O Uganda e o Quênia envolvem-se diretamente na proposta de negociações, mas o governo ugandense já advertiu contra o transbordamento do conflito e disse que suas tropas estão preparadas para intervir militarmente.

Da redação do Vermelho,
Com informações das agências.