Palestina-Israel: Kerry estende reuniões sobre as negociações

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, encontrou-se com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, e com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, entre quinta-feira (2) e domingo (5). As reuniões abordaram maneiras de impulsionar o processo de paz já estagnado, pelo que Kerry deve estender a sua visita até a Arábia Saudita e a Jordânia, mas volta ainda neste domingo aos territórios, segundo o jornal israelense Ha’aretz.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Kerry e Abbas - AP Photo

Enquanto os diários palestinos relataram diversos incidentes de violência da ocupação israelense contra os palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, Kerry prorroga a sua partida da região. A visita é a décima em menos de um ano, e o secretário de Estado insiste em afirmar que os dois lados “estão fazendo progresso”.

Na articulação dos líderes árabes regionais, que também têm peso fundamental na resolução do conflito, Kerry fará uma visita não programada aos sauditas e aos jordanianos, enquanto Martin Indyk, enviado especial dos EUA para a questão – que ainda não demonstrou grande expressão –, visitará o Egito para relatar ao governo a situação das negociações.

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No próximo fim de semana, Kerry deve reunir-se com uma delegação de chanceleres da Liga Árabe nos Estados Unidos para discutir o progresso de um “acordo-quadro” que vem anunciando, com as linhas gerais de partida para as negociações das questões centrais: fronteiras, questões “securitárias”, Jerusalém, refugiados, reconhecimento mútuo, entre outras.

Entre as chamadas questões securitárias, Israel exige a permanência das suas tropas em um Estado palestino desmilitarizado, demanda que foi incluída por Kerry em uma proposta de acordo de segurança feita aos dois lados recentemente, mas rechaçada pelos palestinos. Além disso, a Liga Árabe, importante ator na questão, já disse que também não apoiará o avanço desta sugestão, em uma reunião ministerial do fim de dezembro, realizada a pedido do presidente palestino.

Na ocasião, os representantes dos países árabes na Liga concordaram ainda que rechaçariam “todos os planos e políticas de Israel que tenham como objetivo mudar a situação demográfica e geográfica nos territórios palestinos ocupados, inclusive Jerusalém”.

A Liga Árabe continua insistindo na relevância da proposta que fez em 2002 para a solução do conflito, a chamada Iniciativa de Paz Árabe, impulsionada pela Arábia Saudita, e que inclui tópicos como a “normalização das relações” entre os países árabes e Israel pelo reconhecimento do Estado da Palestina e o fim da ocupação, com outros passos mais detalhados e específicos sobre os territórios, por exemplo.

Segundo Kerry, os israelenses e os palestinos estariam progredindo em direção a um acordo-quadro que insiste em dizer que não se trata de “mais um acordo interino”, conforme denunciado por autoridades palestinas. A referência é relativa principalmente aos Acordos de Oslo, do início da década de 1990, que garantiram, por exemplo, a ocupação militar israelense, por um período limitado de cinco anos, mas que nunca foi encerrado.

De acordo com o jornal israelense Ha’aretz, Kerry disse que deve apresentar a proposta de um acordo-quadro até o final do mês. O chanceler estaunidense fez três reuniões com cada um dos líderes desde que chegou à região, na quinta-feira, mas não apresentou um rascunho de entendimento.

Manifestações críticas ao desempenho estadunidense foram relatadas pelos diários palestinos neste período, revelando a frustração popular quanto à falta de progresso e a continuidade da ocupação, com anúncios constantes da construção ou expansão das colônias, a detenção arbitrária, as demolições de casas e o fim de um ano fatal, em que mais de 40 palestinos foram mortos pelas tropas israelenses e mais de 1.000 foram presos, inclusive crianças.