Israel financia "colônias irregulares" e Canadá critica ocupação

A Chancelaria canadense advertiu Israel, antes da visita do primeiro-ministro Stephen Harper: o Canadá considera as colônias israelenses em territórios palestinos ilegais e obstáculos para o processo de paz, de acordo com o jornal Ha’aretz, nesta segunda-feira (20). No mesmo dia, o diário denuncia um financiamento milionário aos chamados “postos avançados” (colônias irregulares até sob a lei israelense), ainda que a atividade venha se mostrando cada vez mais custosa politicamente.

Israel colônias - Olivier Fitoussi / Haaretz

O premiê do Canadá chegou a Israel neste domingo (21), para uma reunião com seu homólogo, Benjamin Netanyahu. Antes, o Ministério das Relações Exteriores canadense advertiu – para a surpresa dos que reconhecem no Canadá mais um aliado da ocupação israelense – que desaprova as colônias em territórios palestinos.

Harper, em visita Ramallah, sede administrativa Organização para a Libertação da Palestina (OLP) na Cisjordânia, deu uma coletiva de imprensa com o presidente Mahmoud Abbas, nesta segunda (20). À noite, o premiê deve dar um discurso no Parlamento israelense, o Knesset, sobre sua perspectiva relativa às negociações com a Autoridade Palestina (AP), o Executivo da OLP, que forma o governo palestino.

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Algumas horas antes de receber Harper, neste domingo, Netanyahy criticou quatro países da União Europeia (Reino Unido, França, Espanha e Itália) que convocaram os embaixadores israelenses para a discussão sobre a construção de colônias, e acusou-os de tomar uma atitude “unilateral e injusta com relação a Israel”. Já Harper, disse Netanyahu, “expressa uma posição moral clara e corajosa com relação à verdade e aos critérios necessários na comunidade internacional diante de Israel e do conflito aqui.”

Entretanto, o documento que esclarece as políticas do Canadá para o conflito mostra que o governo canadense não está respaldando todas as exigências israelenses nas negociações com a AP. De fato, sua política é praticamente idêntica àquela de muitos países europeus, que têm reavaliado a cooperação com instituições israelenses que tenham ligação com as colônias.

De acordo com o texto canadense, o país não reconhece o controle permanente de Israel sobre os territórios que ocupou em 1967 (na Guerra dos Seis Dias contra vizinhos árabes) e “as colônias israelenses nos territórios ocupados são uma violação da Quarta Convenção de Genebra. As colônias também constituem um sério obstáculo para que uma paz abrangente, justa e duradoura seja alcançada.”

O documento também informa que o governo canadense desaprova a política israelense sobre Jerusalém, cujo estatuto “poderia ser resolvido apenas como parte de um acordo geral da disputa palestina-israelense. O Canadá não reconhece a anexação unilateral de Jerusalém Leste por Israel,” afirma, referindo-se a uma lei da década de 1980, que institui Jerusalém “unificada” como a capital israelense, além de outras provisões sobre a administração da cidade (embora não empregue a palavra “anexação”).

Além disso, afirma apoiar a “criação de um Estado palestino soberano, independente, viável, democrático e territorialmente contíguo”, reiterando o reconhecimento da OLP como o representante do povo palestino. Já sobre os refugiados, a resolução da sua situação também é reconhecida como uma peça central na solução do conflito, citando a resolução 194 da ONU, de 1948, sobre o direito ao retorno, à compensação ou realocação daqueles que foram forçados a deixar suas casas e terras.

Violência contínua e colonização irregular

Entretanto, retratado pelo governo israelense como um dos seus maiores aliados, o premiê do Canadá afirma apoiar Israel nas questões “securitárias”, no direito à autodefesa e contra a discriminação do país pela ONU, três discursos centrais no quadro de pretextos dados por Israel para a manutenção da ocupação militar sobre os territórios palestinos e para o bloqueio e ataques recorrentes contra a Faixa de Gaza.

“Israel tem direito, de acordo com o direito internacional, de tomar as medidas necessárias, de acordo com os direitos humanos e o direito internacional humanitário, de proteger a segurança dos seus cidadãos dos ataques de grupos terroristas.”

No mesmo período, têm sido noticiados os frequentes ataques aéreos israelenses contra a Faixa de Gaza, repetindo o uso da força desproporcional, os danos e o sofrimento causado aos civis, com a legitimação das ações militares através da classificação dos foguetes lançados desde o território como “ataques terroristas” – ainda que, em outros momentos, Israel retrate os palestinos como “partes no conflito”.

Exatos cinco anos após a última grande operação militar israelense, Chumbo Fundido, que matou mais de 1.400 palestinos, Israel continua mantendo o território bloqueado, acusando o governo do partido Hamas de terrorismo – ainda que ele reprima outros grupos que lancem foguetes contra o território israelense – e expandindo a ocupação sobre a Cisjordânia, uma política denunciada diariamente.

Nesta segunda, outro artigo do Ha’aretz relatava o financiamento de US$ 14,6 milhões, pelo Conselho Regional Binyamin Mateh (que administra 42 colônias israelenses no sul da Cisjordânia), por um período de cinco anos, a diversas colônias “não autorizadas” por Israel, chamadas também de “postos avançados”.

A administração usava dinheiro do Estado, assim, para manter colônias que até ele próprio considerava ilegais. O conselho foi fundado em 1979, com jurisdição sobre as colônias judias na região de Jerusalém e de Ramallah, no território palestino, com cerca de 50 mil habitantes.

A denúncia sobre a colonização e a ocupação israelense da Paelstina tem surtido efeitos: a pressão internacional contra a política aumenta, assim como a conscientização no interior de Israel. Embora o aliado por excelência, Estados Unidos, ainda se demonstre fundamentalmente negligente com esta questão, ela ganha atenção e condenação.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho