Faixa de Gaza: Premiê de Israel ameaça "dar uma lição" ao Hamas

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu ameaçou o Hamas, que governa a Faixa de Gaza palestina, nesta terça-feira (21). Em uma coletiva de imprensa com o premiê canadense Stephen Harper, que visita Israel, Netanyahu disse que “muito em breve” deve “dar uma lição” ao movimento de resistência islâmica no território, embora as notícias sobre ataques aéreos israelenses já estejam sendo veiculadas.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Operação Chumbo Fundido - Associated Press

Na mesma semana em que o fim da Operação Chumbo Fundido de Israel contra a Faixa de Gaza completa cinco anos – tendo deixado um saldo de mais de 1.400 palestinos mortos e uma destruição abrangente da infraestrutura de Gaza – os ataques aéreos parecem aumentar, novamente “explicados” como respostas de autodefesa de Israel contra os foguetes lançados desde o território palestino.

Embora não tenham ainda causado vítimas fatais ou danos sérios, e apesar da reprovação do governo de Gaza, liderado pelo Hamas, os foguetes dos grupos armados disparados contra o território israelense servirão de pretexto para outra ação de agressão conduzida por Israel contra os palestinos, como foram as três semanas entre o fim de dezembro de 2008 e janeiro de 2009 – ainda no governo do ex-premiê Ehud Olmert – e em novembro de 2012, suas duas últimas grandes operações militares.

“Temos uma política muito clara. Impedimos ataques terroristas quando os identificamos no processo de fabricação, e respondemos com força contra quem quer que nos machuque,” disse o premiê, repetindo frases belicosas que analistas da mídia denunciam reiteradamente, com a legitimação da violência como esforço central.

Além disso, suas próprias violações, como o bloqueio militar imposto ao território desde 2006, as incursões terrestres frequentes e os ataques aéreos reiterados ficam omitidos. A resistência, ou a reação, são classificados de "atos terroristas".

Crimes de guerra e violência "justificada"

A “punição coletiva” já foi identificada até mesmo pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas nas operações militares anteriores conduzidas por Israel contra a Faixa de Gaza, ainda sem resultados. Os impactos da escolha pela agressão militar sobre os civis são devastadores e condenados até mesmo pelos aliados de Israel.

Ainda assim, Netanyahu alega: “Esta política garantiu um ano tranquilo em 2013, o mais calmo de muitos anos. Se o Hamas e as organizações terroristas esqueceram-se desta lição, eles a aprenderão novamente, de forma potente, muito em breve.”

Suas declarações foram divulgadas pouco depois de o Hamas ter afirmado que enviou tropas por todo o território para “preservar a trégua” acordada. Em sua fala, Netanyahu referia-se à última agressão, a Operação Pilar de Defesa, de novembro de 2012, que deixou mais de 170 palestinos mortos.

Embora Netanyahu tenha classificado 2013 de “um ano tranquilo”, as tropas israelenses mataram nove palestinos no território, de acordo com a organização israelense de proteção aos direitos humanos, B’Tselem. Já desde os últimos dias do ano até esta semana, quatro palestinos foram mortos.

O governo israelense afirma que oito foguetes disparados desde Gaza atingiram o seu território desde 1º de janeiro, e outros cinco teriam sido interceptados pelo sistema antimíssil Cúpula de Ferro.

O Hamas nega ter lançado os foguetes, mas assim como na véspera das grandes operações mais recentes, o governo israelense tem ignorado a posição do movimento islâmico e recorre a subterfúgios diversos, inclusive à manipulação do direito internacional – como a simplista afirmação de um "direito à autodefesa" – para justificar a sua opção pela agressão militar.