UE "não entende" exigência de Israel; diplomacia segue estagnada

O chefe da equipe palestina nas negociações com Israel, Saeb Erekat, voltou a afirmar a responsabilidade israelense na falência da diplomacia, nesta quinta-feira (23). Um dos obstáculos principais, a exigência de reconhecimento de Israel como Estado judeu, foi questionado no dia anterior pelo embaixador da União Europeia no país, Lars Faaborg Andersen. “Não acho que temos uma posição clara sobre isso porque não estamos certos do que significa este conceito”, disse, em uma coletiva de imprensa.

Beduínos no deserto de Negev - AFP

Andersen disse que o bloco europeu não compreende o que o premiê Benjamin Netanyahu quer dizer quando pede que os palestinos reconheçam Israel como um Estado judeu.

Se isso quer dizer “um país em que os judeus, árabes e drusos vivam juntos, eu acho que isso é Israel como o conhecemos hoje,” disse ele, apesar da expressiva segregação e diferença social entre os judeus e não judeus amplamente denunciadas, inclusive por israelenses.

“A União Europeia não pronunciou uma posição sobre a questão do reconhecimento de Israel como Estado judeu, entre outras razões, porque não temos certeza sobre as implicações desta questão sobre as outras [relativas] a um estatuto final,” ressaltou o diplomata. “Por isso, acreditamos que este é um ponto a ser discutido entre as partes” na negociação.

O reconhecimento de Israel como um Estado judeu, tornou-se uma exigência central para o governo de Benjamin Netanyahu nas conversações com a Autoridade Palestina, e chegou a pedir ao presidente palestino, Mahmoud Abbas: “apenas diga”.

Para os palestinos, entretanto, trata-se de uma demanda inaceitável e enfatizada apenas porque as autoridades israelenses sabem que os palestinos não a aceitam.

Além de Israel ter nascido de uma imposição colonizadora sobre a Palestina, e já ter anexado diversas partes do território que restou para o Estado da Palestina (22% do território histórico), este reconhecimento teria implicações diretas em reivindicações cuja legitimidade já foi afirmada em diversas resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU), como o direito de retorno dos milhões de refugiados.

Como se não bastasse, o próprio estatuto político e civil dos árabes-israelenses também ficaria oficialmente comprometido, enquanto atores proeminentes, como o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, ainda avançam propostas racistas como a de “transferência de população”, de colonos israelenses para Israel, e de palestinos-israelenses para a Palestina.

Por essas e outras questões, o líder da equipe palestina nas negociações e membro do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Erekat disse que Israel é responsável direto pela “sabotagem e destruição” do processo de paz e do consenso sobre a solução de dois Estados.

Além disso, com a contínua construção de colônias nos territórios palestinos, Israel “está enviando a mensagem, para o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para suspender seus esforços de paz entre os palestinos e os israelenses.”

Mas a negligência dos Estados Unidos frente ao descompromisso israelense com as negociações é patente. Erekat afirmou: “se a comunidade internacional está preocupada com o princípio de dois Estados nas fronteiras de 1967, então deveria agir para responsabilizar Israel.”

Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações da agência palestina de notícias Wafa