SSA: Projetos da prefeitura são superficiais, aponta especialista

“Os projetos que estão sendo feitos traçam mais de questões superficiais, do que se chama de paliativo, ou seja, de um embelezamento”. A análise, feita sobre as obras tocadas pelo prefeito ACM Neto (DEM), em Salvador, desde que assumiu a prefeitura, no ano passado, poderia ser de qualquer um dos vereadores de oposição, na Câmara, e muitos diriam se tratar de implicância política. Mas, não!

As aspas são do arquiteto Edgar Porto, especialista em Desenvolvimento Urbano, com doutorado na Universidade de Barcelona, na Espanha, e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde também leciona, na Faculdade de Arquitetura. Edgar foi o convidado do PCdoB no seminário “Mais vida militante pela base”, que traçou um raio-x da capital baiana, na última sexta-feira (24/1).

Nesta entrevista ao Vermelho, o professor não poupou críticas ao governo ACM Neto, muito por conta da falta de planejamento estratégico e de pensar Salvador como parte de uma região metropolitana. Sobre a requalificação da orla da Barra, uma das ações mais publicizadas pelo prefeito, por exemplo, Porto afirma que não há um cuidado nem com a qualidade dos materiais utilizados na obra. Confira na íntegra.

Vermelho – O senhor apontou muitas fragilidades na administração municipal. O que falta na condução da cidade?

Edgar Porto – Falta compreensão dos gestores para situar Salvador dentro da sua região, ou dentro de uma escala territorial maior, porque, hoje, os frutos econômicos são mundializados. Então, você não pode pensar o município apenas dentro dos seus limites político-territoriais. Você precisa compreender que o seu município tem uma função dentro de uma região, dentro do país, e essa função é que traz potencialidades para você atuar. Isso não se tem, se atua muito no investimento do aqui, do agora, talvez pensando sempre em eleições.

V – O senhor disse que acompanha os projetos das obras apresentadas pela prefeitura. Qual a análise que faz dos documentos?

EP – Eu li os documentos e, evidentemente, não como um técnico, não fiz análise específica do documento, mas eu não senti uma compreensão, de forma explícita, do processo de desenvolvimento de Salvador e da sua região, quais são seus papeis, suas potencialidades. Eu senti muito uma listagem organizada por tema de obras e ações. Para mim, isso não ficou claro.


V
– Muita gente acusa o prefeito de, por não ter tido tempo para planejar as obras, executar ações apenas paliativas, na tentativa de mostrar serviço. É isso mesmo?

EP – Algumas obras, como recapeamento, por exemplo, são paliativas, mas necessárias, precisam ser feitas. Agora, projetos que estão sendo feitos, como por exemplo a [requalificação] da Barra e da Orla, traçam mais de questões superficiais, do que se chama de paliativo, ou seja, de um embelezamento. Não vai no âmago da questão do esvaziamento da Barra, por exemplo, como um bairro que atrai turistas, como um centro de atividades musicais, carnaval e etc. Então, você não compreende porque é que a Barra esvaziou economicamente e como você vai trazer de volta investimentos e dar incremento a novas atividades. Isso não está claro, mas as obras estão lá sendo tocadas, inclusive, usando materiais que são questionáveis, do ponto de vista da qualidade.

V – O PCdoB convidou o senhor para poder fazer um debate qualificado sobre os reais problemas enfrentados pela cidade e, assim, aperfeiçoar sua ação política. Qual a avaliação que faz dessa iniciativa?

EP – Acho de extrema importância, parabenizo o partido e acho o seguinte: parece até que essa é uma atividade que está fora de moda para os países que estão perdendo a capacidade de pensar no seu futuro. É sempre uma coisa contemporânea, moderna e etc. Isso é extremamente salutar, você aliar prática política a uma proposta de desenvolvimento, o que você quer para o povo, o que pensa sobre o desenvolvimento. Você conhecendo isso, define a sua atuação política. Isso é próprio do mundo mais civilizado e nós estamos perdendo muito essa capacidade.

De Salvador,
Erikson Walla