Julgamento da princesa da Espanha retoma críticas à monarquia

O envolvimento de Cristina de Burbón y Grécia, filha do rei da Espanha, em um caso de corrupção política tem ocasionado debates nacionais sobre os privilégios dados à realeza, num país monárquico, mas inserido na defesa de uma “democracia ocidental.” Nesta quinta-feira (30), novos detalhes sobre a sua convocação para depor retomam os debates sobre o tema.

Espanha - Diálogo Libre

O chamado “Caso Nóos” – devido ao nome do Instituto Nóos, envolvido em corrupção política e dirigido pelo marido de Cristina, duque Iñaki Urdangarin – está sendo investigado desde 2010, mas o tratamento diferenciado dado à princesa é evidente.

Ela foi indiciada por delito fiscal e lavagem de dinheiro, enquanto os restantes acusados, inclusive o seu marido, são acusados de má gestão, fraude, prevaricação, falsidade e lavagem de dinheiro, todas derivadas de atividades realizadas dentro de uma instituição sem fins lucrativos.

Esther Vivas, ativista política e socióloga escrevendo para o jornal espanhol Público, no início do mês, afirmava a surpresa dos espanhóis ao ver a realeza no banco dos réus, “e o monarca, esta figura intocável, a quem tínhamos que agradecer por nossa democracia plebeia, perdeu toda a credibilidade. Apesar de que muitos, a começar pela Promotoria Anticorrupção, tentam esconder todo o lixo real debaixo do tapete e evitar a todo custo o comparecimento da infanta, o juiz José Castro a convocou para prestar declarações.”

Felizmente, dizia ela, “ainda existe algum juiz que tente defender aquilo que diz o artigo 14 da Constituição, sobre todos sermos iguais perante a lei, sem que possa prevalecer qualquer discriminação por razão de nascimento, raça, seco, religião…”

Já nesta quinta-feira (30), as notícias não são tão positivas: Cristina deve ser levada de carro pela rampa do tribunal (um caminho feito à pé pelos “plebeus”) e sua imagem não será gravada, apenas a sua voz, durante a sessão prevista para 8 de fevereiro, a ser realizada em Palma de Mallorca, capital de uma das ilhas canárias, cujo ducado foi concedido a Cristina por seu pai, rei Juan Carlos I, por ocasião do seu casamento com Urdangarin, ainda na década de 1990.

Ainda assim, “a monarquia está em suas horas mais baixas. Nem o ‘photoshop’ pode ocultar toda a porcaria que se esconde,” escreve Esther, que cita uma pesquisa de opinião da organização Sigma Dos para o jornal El Mundo sobre a queda drástica da aprovação da monarquia como forma de Estado: menos de 50% a respalda “e quase 70% vê o rei incapaz de recuperar o prestígio da Coroa.”

“Mas há apenas alguns anos, no começo de 2012, 76% tinham uma visão positiva da Sua Majestade e 60% da monarquia. Logo, pelo mal da Família Real, chegaria a caça de elefantes em Botsuana, as operações de bacia do monarca e o comparecimento do ex-genro perfeito Iñaki Urdangarín ante o juiz pelo caso Nóos. Ainda assim, não tenhamos ilusões, já que o príncipe Felipe poderia sair a qualquer momento, se seu pai deixar, ao resgate da instituição. Esperamos que isso não aconteça,” escreve ela.

Da redação do Vermelho,
Com informações do Público