Israel e Aliança do Pacífico, em consonância com a dominação

Nesta semana, a página oficial do primeiro-ministro de Israel exalta: o país foi aceito como observador na danosa Aliança do Pacífico, composta por Chile, México, Colômbia e Peru, cujos governos são bastiões do retrucar neoliberal contra o avanço progressista no subcontinente latino-americano, contra a afirmação soberana frente à dominação estadunidense. Israel faltava à Aliança, e ela faltava a Israel, cada vez mais isolado do mundo.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Israel e Chile - Miriam Alster/Flash90/ Times of Israel

O governo israelense vem tentando reagir ao movimento internacional de boicote – ou, ainda, de questionamento – à sua política de ocupação dos territórios palestinos. São diversas as análises sobre a eficácia e até sobre a estratégia dos boicotes e das sanções contra a economia israelense, com ênfase sobre aquela desenvolvida, em específico, nas terras tomadas dos palestinos após a guerra de 1967.

Apesar dos alertas sobre o isolamento, inclusive de cidadãos israelenses atentos, da União Europeia (UE) e até mesmo do aliado supremo, Estados Unidos, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prefere contra-atacar a mudar de posicionamento, principalmente durante as negociações com a Autoridade Nacional Palestina (ANP), retomadas há sete meses, mas sem qualquer avanço. Israel deve manter sua imagem de potência dominante e não pode, por isso, voltar atrás, ou ficaria ainda mais exposto em um processo que já lhe trouxe quase sete décadas de vantagem.

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Uma das estratégias do governo israelense é, por isso, a diversificação dos “parceiros comerciais”. Após um discurso promocional no Fórum Econômico Mundial em Davos – o espaço publicitário por excelência para vendas, inclusive da própria soberania econômica, em grande parte dos casos, à custa da produção nacional e dos trabalhadores – Netanyahu volta-se aos remanescentes do entreguismo na América Latina.

Trata-se da “continuidade dos esforços do premiê para o desenvolvimento de novos mercados para a economia israelense”, lê-se na página oficial do governo, que anuncia uma visita a ser feita por Netanyahu, em breve, à Colômbia e ao México.

A este anúncio se segue, como usual, a listagem de dados econômicos sobre o comércio entre Israel e os membros da Aliança do Pacífico, que soma quase 36% da economia e 50% do comércio latino-americano. Atualmente, Israel exporta US$ 864 milhões (R$ 2,1 bilhões) em bens para esses países por ano, aproximadamente 1% da sua exportação total.

O avanço do movimento que apela aos boicotes e às sanções para protestar contra a ocupação dos territórios palestinos, entretanto, alerta o governo israelense para a “necessidade de abrir novos mercados” – esta é a mensagem entendida, e não a da necessidade de encerrar a política de despojo. A postura dos governos latino-americanos em questão, é claro, chamou a sua atenção como uma oportunidade.

Assim, Israel somou-se à lista de Estados observadores que inclui os patronos, Estados Unidos e Canadá, entre outros observadores que, devido à sua importância global ou regional, e não à correspondência de princípios, também têm este estatuto. São exemplos os países com elevadas taxas de comércio com os membros, como a China, o Equador e o Uruguai, cujo presidente, José Mujica, é um dos principais nomes do movimento progressista na região e da denúncia à ressuscitação constante e insustentável do neoliberalismo.

Um parceiro à medida

Como Estado observador, Israel participará também dos grupos de trabalho da Aliança e das suas conferências, no avanço dos acordos comerciais entre os envolvidos, apesar dos debates regionais e à promoção da integração soberana, solidária e progressista de respeito à diversidade e à dignidade dos povos e trabalhadores latino-americanos.

Os presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e do Chile, Sebastián Piñera, são os membros que mais apoiaram o novo estatuto para Israel, após as reuniões com o premiê Netanyahu, sobretudo em Davos. Mas foi o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, o portador da proposta que havia recebido do próprio Netanyahu, no mesmo âmbito.

A decisão positiva foi definida na Cúpula de Cartagena, na Colômbia, na segunda-feira (10). No mesmo dia, a Costa Rica iniciou seu processo de adesão como membro e os presidentes assinaram o Protocolo Adicional de Comércio do Acordo-Quadro da Aliança Pacífico, para a eliminação de 92% de impostos alfandegários de mercadorias e serviços, assim como o estabelecimento de bases jurídicas para o livre-comércio e para a padronização dos procedimentos de exportação e importação.

Enquanto os remanescentes do neoliberalismo na América Latina contornam a luta popular contra as configurações favoráveis aos predadores – que tornam mais vulneráveis as condições de trabalho e as produções nacionais – o governo de Israel abre novas fronteiras para fugir às consequências da ocupação, recorrendo àqueles que, refletindo a sua própria política nacional, não podiam se engajar menos na luta palestina cotidiana pela libertação, embora seja a Colômbia o único país independente no subcontinente que ainda não reconheceu o Estado da Palestina.