Reconciliação entre os palestinos é prioridade, dizem partidos

Outro importante episódio do processo de reconciliação política entre as duas grandes representações palestinas ocorreu neste domingo (9), através de uma reunião entre o líder do governo da Faixa de Gaza, Ismail Haniyeh, do partido islâmico Hamas, e o chefe da delegação do partido Fatah (à frente do governo da Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia), Nabil Shaath. A reunião estende-se durante esta segunda-feira (10).

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Faixa de Gaza - Mahmoud Hams / AFP / Getty Images

Haniyeh disse que o Hamas está firmemente decidido a comprometer-se com o Fatah e a criar um ambiente positivo para os diálogos de reconciliação entre os partidos.

Os dois cortaram relações após as últimas eleições parlamentares, em 2006, quando o Hamas venceu e Haniyeh foi escolhido como primeiro-ministro, mas a disputa levou a confrontos e, consequentemente, à expulsão da representação do Fatah da Faixa de Gaza, enquanto o Hamas assumia o governo do território.

Leia também:
Premiê diz que Israel "não é obrigado" a aceitar plano dos EUA
Plano dos EUA permitiria colonos israelenses na Palestina
Israel em terapia: "Palestinos devem reconhecer 'Estado judeu'"
Chanceler de Israel defende proposta dos EUA para negociações

Recentemente, entretanto, um processo longo de reconciliação começou a dar mais resultados, quando o Hamas permitiu o regresso do Fatah à Faixa de Gaza.

No contexto das negociações entre a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e Israel, nas quais os Estados Unidos apresentam-se como mediadores (apesar da postura clara de aliado israelense), o plano apresentado pelo secretário de Estado John Kerry “não levará à paz”, adverte Hanyieh, “porque não reconhece os direitos dos palestinos.”

O Hamas, assim como outros dois partidos islâmicos, tem se reunido com representantes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), uma frente de 13 partidos sob a liderança do Fatah, que governa a ANP enquanto órgão executivo. O propósito é que os partidos islâmicos também integrem a organização.

A importância da reconciliação é intensificada em um período em que a coesão nacional relativa e o apoio firme à política palestina para a resolução do conflito são cruciais para fortalecer a posição dos palestinos, tanto nas negociações com Israel quanto nas alternativas a serem elaboradas ou aplicadas caso o processo resulte, novamente, na manutenção da ocupação.

Durante a vista à Faixa de Gaza, o representante do Fatah participou de reuniões com outros funcionários do Hamas, com o objetivo de encerrar anos de rivalidades. No fim da viagem, Shaath informou que o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, concordou em colocar em prática vários pontos do acordo de reconciliação nacional.

Entre as medidas estão a realização de eleições justas, a formação de um governo de transição, a reconstrução da Faixa de Gaza e a unidade entre os entes e organizações palestinas. Além disso, Shaath garantiu que o objetivo da reconciliação deve ser alcançado em poucos dias.

Em 2011 e 2012, os partidos já haviam negociado pontos de transição para a reaproximação, com a mediação do Egito e do Catar, mas os passos acordados ainda não foram postos em prática devido a diversas questões de desacordo.


   Ismail Haniyeh (Hamas) e o presidente Mahmoud Abbas (Fatah), à frente da Autoridade Palestina, encontram-se no Egito,
   em 2012.

Além disso, o Hamas é considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, mas o partido afirmou que não deve se desfazer dos órgãos de resistência armada, como as Brigadas Al-Qassam, em prol da reconciliação.

De acordo com a agência palestina de notícias Ma’an, Shaath e Khalil Al-Hayya (outro representante do Hamas com quem o enviado do Fatah reuniu-se) disseram considerar a reaproximação uma prioridade extrema, e que as reuniões anteriores tinham sido muito bem sucedidas.

“Sabemos que a estrada para a libertação e para a independência é ainda longa e precisa de muito trabalho, e o primeiro passo é a unidade palestina,” disse Shaath. “Não poderá haver um Estado palestino sem Gaza.”