Nova rodada de negociações termina com acusação ao governo sírio

O secretário de Estado dos EUA John Kerry voltou a responsabilizar o governo sírio, na noite deste domingo (16), pelo impasse nas negociações com a Coalizão Nacional Síria, que se apresenta como a oposição, na segunda Conferência Internacional sobre a Síria, “Genebra 2”. A reunião, realizada em meio à contínua ingerência externa em apoio aos grupos armados, terminou sem grandes avanços, mas a terceira rodada da conferência já está prevista.

Ahmed al-Jarba Síria - Al-Jazeera

Embora sejam frequentes notícias sobre a “opção militar” (ou seja, de uma agressão conta a Síria) ser mantida “sobre a mesa” pelos Estados Unidos, John Kerry disse que o país "continua comprometido com o processo de Genebra”, a conferência internacional sobre o conflito no país árabe, realizada na Suíça.

As ameaças dos Estados Unidos e seus aliados europeus sobre a intervenção militar contra a Síria têm sido barradas pelos esforços diplomáticos da Rússia e da China, principalmente, e do comprometimento do governo sírio com o diálogo político.

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A própria “Genebra 2”, a segunda edição da conferência (a primeira havia sido realizada em junho de 2012) foi postergada por um longo período devido à recusa da Coalizão Nacional Síria (CNS, autodenominada oposição que, de acordo com os sírios, não é representativa e está profundamente fragmentada) em participar a menos que o presidente Bashar al-Assad fosse destituído.

A segunda conferência começou no dia 22 de janeiro, com uma semana para a primeira rodada e mais uma semana para a segunda, terminada neste sábado (15). O governo sírio vem insistindo na urgência da prioridade ao combate contra o terrorismo, que se disseminou pela região nestes três anos de conflito, com o apoio direto de vizinhos como a Arábia Saudita e a Turquia aos grupos armados em geral e também aos extremistas, como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante/Síria (EIIS).

O contraterrorismo é fundamental para garantir a estabilidade necessária a um processo político de transição, defende o governo. Entretanto, assim como quando adiou a realização da conferência por mais de um ano, a CNS insiste em que a prioridade é a formação de um Corpo de Governo Transicional, para o que há pouco tempo, exigia a demissão do presidente Bashar Al-Assad, em detrimento do seu apoio popular.

Além disso, a entrega de ajuda humanitária também foi colocada por Kerry como uma grande consequência da estagnação diplomática pela qual ele culpa o governo sírio, embora as forças oficiais sírias estejam empenhadas na facilitação da circulação de comboios da Organização das Nações Unidas e do Crescente Vermelho Sírio apesar do fogo cruzado com os paramilitares.

O governo também exige respeito à soberania síria contra as tentativas do Ocidente e de seus aliados regionais em definir uma mudança de regime no país, embora as eleições presidenciais já estejam previstas, conforme o calendário constitucional, para junho deste ano.

Compromisso com a diplomacia contra a violência

O prolongamento do conflito armado foi possibilitado pelo apoio estrangeiro aos chamados “rebeldes”, em grupos que incluem mercenários de mais de 80 países, de acordo com o Ministério sírio da Informação, e extremistas também provenientes de vários países vizinhos, principalmente da Arábia Saudita. Até mesmo os grupos armados apresentados como seculares têm entrado em confronto com radicais como o EIIS e a Frente Al-Nusra, ambos de ligações com a rede Al-Qaeda.

No decorrer das negociações e sem grande explicação, a CNS finalmente deixou de lado a exigência de demissão do presidente Assad, ao mesmo tempo em que as manifestações de rua em apoio ao governo, na Síria, ganharam mais ênfase. Ainda assim, o foco na construção de um governo de transição tem relegado o alerta do governo sobre a condição extrema do terrorismo na região.

Por outro lado, os enviados da China e da Rússia para a conferência têm urgido todos os envolvidos a continuarem empenhados no diálogo político para que o processo seja encaminhado, com a construção gradual de confiança.

“Não podemos esperar que todos os problemas sejam resolvidos em duas conferências,” disse a porta-voz da Chancelaria chinesa, Hua Chunying, nesta segunda-feira (17), em uma coletiva de imprensa.

Embora a segunda rodada de conversações, durante a Genebra 2, tenha terminado sem resultados tangíveis, no sábado (15), já houve acordo sobre a terceira rodada, em data ainda a ser anunciada. Além disso, a base de discussão, o “Comunicado de Genebra” (que determina a construção de um governo de transição) também foi acordada entre o governo e a CNS.

A porta-voz disse que a China urgiu a sociedade internacional a dedicar-se mais pela promoção das negociações e para criar um ambiente externo favorável à diplomacia, com o respeito à soberania chinesa e sem ingerência na política interna da Síria.

Da redação do Vermelho,
Com informações das agências