Resistência: Palestinos marcam 20 anos do massacre de Hebron

Nesta terça-feira (25), palestinos marcam os 20 anos do massacre na Mesquita de Abraão, na conturbada cidade de Hebron, Cisjordânia, epicentro da ocupação militar israelense institucionalizada. Neste dia, em 1994, um colono judeu chamado Baruch Goldstein entrou armado na importante mesquita e abriu fogo contra os que rezavam, durante o mês sagrado do Ramadã. Seu atentado matou 29 palestinos e deixou mais de 120 feridos.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Hebron Palestina - Middle East Monitor

Após a ação de Goldstein, um dos milhares de colonos israelenses que vivia na região de Hebron, ele foi dominado e surrado, morrendo logo em seguida. Ainda assim, mais palestinos foram mortos nos confrontos que se seguiram com os soldados israelenses que controlam a cidade, inclusive às portas do hospital, que recebia doações de sangue. Cerca de 200 a 250 ficaram feridos no decorrer do dia.

Como resposta ao evento, a mesquita foi dividia pelas forças armadas israelenses e mais de metade do recinto foi destinada aos colonos judeus, que o usam como uma sinagoga. Isso se atribui à importância religiosa do local, também denominado Tumba dos Patriarcas pelos judeus, já que ali estariam enterrados os patriarcas e matriarcas do judaísmo.

Leia também:
Tem início campanha global para denúncia da segregação em Israel
Deputada propõe lei para Israel "manter soberania" sobre colônias
Extrema-direita envergonha Israel e afasta aliado, diz colunista
Soldada israelense detalha abusos nos territórios palestinos

Baruch, estadunidense-israelense, era membro de um grupo e partido político ultranacionalista e ultra-ortodoxo chamado Kach e Kahane, cuja ideologia de extrema-direita resultava do ativismo do rabino Meir Kahane, também nascido nos Estados Unidos.

A influência do rabino, que foi também parlamentar, ficou reconhecida na formação de grupos de “autodefesa” entre os colonos na Cisjordânia, com episódios frequentes de violência contra os palestinos. Kahane, que morreu em 1990, defendia inclusive a anexação dos territórios palestinos e a compensação aos árabes, ou a sua expulsão, caso se recusassem a deixar o que se tornaria o "Grande Israel".

Os dois grupos resultantes da divisão do partido, o Kach e o Kahane Chai (“Kahane Vive”) acabaram por ser proibidos por promover o racismo e classificados como organizações terroristas até mesmo por Israel, assim como o Canadá, Estados Unidos e União Europeia, principais aliados israelenses.

Hebron no centro da ocupação

Grande porção à volta da mesquita foi incluída na região militarizada H2, mais tarde incluída no Protocolo de Hebron, assinado entre o primeiro governo do premiê Benjamin Netanyahu e a Autoridade Palestina, no contexto do processo de paz de Oslo, iniciado em 1993.

Assim, em 1997, Hebron ficou dividida da mesma forma que os chamados Acordos de Oslo dividiram a Cisjordânia, poucos anos antes: em zonas de controle militar israelense, controle civil-militar partilhado e controle civil palestino, o que corresponde à menor porção.

Na cidade, postos de controle separam diferentes bairros e impedem a entrada aos não autorizados nas colônias israelenses, construídas sob a segurança dos soldados e de torres de controle instaladas nas colinas, que cercam o centro urbano de forma estratégica, tornando o regime de ocupação militar uma realidade crua e diária para os palestinos, e o de segregação, institucionalizado.

Como reafirma o Comitê pela Eliminação da Segregação Racial das Nações Unidas, em relatório de 2012, isso se verifica, por exemplo, com a imposição de dois sistemas legais diferentes, um civil e outro militar, para israelenses e palestinos, nos territórios sob controle israelense, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

A região H2, assim, garante a proteção às inúmeras colônias judias em plena cidade, com ruas em que a segregação é explícita (algumas, dividas fisicamente no meio) e o bloqueio completo de uma avenida antes pujante comercialmente, a Avenida Shuhada, ou Avenida dos Mártires, cuja reabertura também é uma reivindicação dos palestinos na região.

No sábado (21), cerca de dois mil palestinos protestaram na cidade, como parte de uma série de eventos para marcar os 20 anos do massacre da Mesquita de Abraão, ou da Tumba dos Patriarcas. A manifestação é parte da campanha “Abram a Avenida Shuhada”, dos comitês de resistência popular, iniciada em 2008.

Uma presença militar israelense de peso reprimiu violentamente o protesto com granadas de efeito moral, gás lacrimogênio e “balas de borracha” que, na verdade, são balas de aço revestidas com uma fina camada de borracha, uma ferramenta de repressão e dispersão denunciada pela organização israelense de defesa dos direitos humanos, B’Tselem.