Movimento Negro protesta em repúdio à declaração de Mauro Ricardo

“O povo negro vai se unir e o secretário vai cair”. Foi esse o principal grito que representantes de cerca de 13 entidades, na maioria do movimento negro local, levou para as ruas do Centro de Salvador, onde estão instaladas a Prefeitura e a Secretaria da Fazenda, nesta quarta-feira (26/2). O ato é uma manifestação de repúdio a uma declaração feita pelo secretário da Fazenda, Mauro Ricardo, em que ele insinua desejar levar os inadimplentes do IPTU ao pelourinho.

A declaração de Mauro Ricardo indignou o movimento negro porque o pelourinho foi um dos principais instrumentos de tortura de escravos e Salvador é considerada a cidade mais negra fora do continente africano. Para o coordenador da seção baiana da Unegro (União de Negros pela Igualdade), Jerônimo Silva Júnior, a atitude expressa um racismo institucional.

“O pelourinho, um instrumento de tortura dos escravos, tem um simbolismo muito grande para a população afrodescendente. Era o instrumento de castigo do cativeiro da escravidão. Esse foi um ato de preconceito racial, de racismo institucional. O histórico desse grupo político é de exclusão da população afrodescendente e pobre e tem uma maneira de pensar a cidade para uma minoria, para a elite”, defende o coordenador.

A concentração dos manifestantes foi feita em frente à secretaria, localizada na Rua D’Ajuda, e de lá eles partiram para a Praça Municipal, onde está a Prefeitura, finalizando o protesto no Pelourinho. A exigência feita durante o ato é de que o prefeito ACM Neto (Dem) faça um pedido público de desculpas à população soteropolitana e exonere o secretário Mauro Ricardo.

Caso o pedido não seja atendido, as manifestações vão continuar, como explica o coordenador da Unegro. “[Se a pauta não for atendida] Vamos aproveitar o período carnavalesco e fazer atos políticos, principalmente na Mudança do Garcia, na segunda-feira”. A Mudança do Garcia é um bloco tradicional do Carnaval de Salvador, que desfila no Campo Grande e é marcado por protestos de diferentes naturezas.

Além da Unegro, também participaram do protesto, a Atitude Quilombola, a Conen

(Coordenação Nacional de Entidades Negras), a Cen (Coletivo de Entidades Negras), o Instituto Palmares, a Frente Búzios, o Círculo Palmarino, a CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), a UJS (União da Juventude Socialista), o Coletivo Martin Luter King, Coletivo Crioulo, o Movimento de Passe Livre (MPL-Salvador) e o Movimento em Defesa da Moradia e do Trabalho (MDMT).

 
Denúncia no MP

O movimento também contou com representantes do PCdoB, do PT e do PSOL. O vereador de Salvador, Hilton Coelho, que é do PSOL e integra a Comissão de Reparação da Câmara, informou que a comissão decidiu denunciar o secretário ao Ministério Público do Estado (MP-BA), por crime de racismo.

O documento, que deve ser encaminhado ao MP ainda nesta quarta-feira, pede, também, o pedido público de desculpas pela Prefeitura. A Comissão de Reparação prepara, ainda, um pedido formal de exoneração de Mauro Ricardo, a ser encaminhado ao prefeito.

De Salvador,
Erikson Walla