Iago Montalvão: “Da América sou filho, a ela me devo”

Tendo em vista as situações de atentados aos direitos democráticos do povo latino-americano, como na destituição do presidente Fernando Lugo no Paraguai em 2012 e na tentativa de golpe contra o presidente Nicolás Maduro nas últimas semanas na Venezuela.

Por Iago Montalvão*, em seu blog

Memorial América Latina
Além da ofensiva da mídia e setores conservadores contra esses governos, amplia-se cada vez mais a necessidade do debate acerca da necessidade da integração regional solidária e dos processos históricos de formação das identidades das massas latino-americanas, que construíram, e constroem, com, não somente sangue e suor, mas através de fortes demarcações culturais e de solidariedade, a “Nossa América” tão sonhada por José Martí, Bolívar, Tupac Amaru, e outros.
 
“Jamais recordo as pequenas amarguras
que passei nessa terra bem amada:
apenas me lembro de suas ternuras”
                        José Martí sobre a Venezuela
É necessário, antes de qualquer coisa, a compreensão acerca dos desdobramentos da formação do território e do povo latino-americano. Cabe dizer que não se trata de mera vitimização, ou sequer de uma tentativa de engodo que justifique o relativo atraso social e econômico presente nos países da América Latina, mas de compreender que em comparação à outros continentes do planeta (Europa, Ásia, América do Norte) houve sim grande discrepância em seu processo de desenvolvimento, em todos os setores (econômico, político, social, etc.), que esteve durante séculos submetido aos interesses estrangeiros, inicialmente das metrópoles europeias, que durante todo o período da acumulação primitiva do capital, através da colonização, utilizaram-se das riquezas e do povo que cá vivia para dar cabo ao desenvolvimento do capitalismo na Europa, passando posteriormente à tutela dos Estados Unidos da América que num momento de rápida expansão de sua indústria e de seu mercado comercial, viu nos povos latino-americanos uma grande oportunidade para arregimentar o consumo que suas corporações recém fundadas precisavam.

Como já dizia o grande poeta Johann Wolfgang von Goethe: "Quem de três milênios, não é capaz de se dar conta, vive na ignorância, na sombra, a mercê dos dias, do tempo.", isto é, qualquer pessoa que apreenda minimamente esses processos históricos, que tenho aqui a necessidade de simplificar, tem condições de compreender a situação da América Latina em várias esferas da sociedade, mas tem, sobretudo, a capacidade de se solidarizar e se inspirar na luta travada também nesses últimos séculos nos mais diversos espaços desse continente, seja através da resistência de Canudos e da coluna Prestes, ou da independência e da Revolução Cubana, da espada de Bolívar ou da lança de Tupac Amaru, lutas estas que continuam até hoje e representam “um pueblo sin pé, pero que camina”, que busca sofridamente seus direitos e a soberania de seus povos, mas que não perde sua generosidade, tampouco sua ternura, jamais.

Enquanto isso, a grande burguesia desses países e o Estados Unidos da América, através do qual os primeiros são sustentados, sentem-se ameaçados com o avanço e o fortalecimento das lutas populares e dos governos progressistas, por isso não recuam, nem sequer pensam duas vezes antes de mostrar suas garras novamente, o que não é nenhuma novidade, basta retornar à história dos regimes militares na América Latina para elucidar qual o papel esses setores exerceram, e exercem, ao interferir na soberania de nossos países. Por isso, Washington e a corporação midiática burguesa(ou Partido da Imprensa Golpista – PIG) voltam-se para o ataque à democracia venezuelana todo apoio à Leopoldo Lopez, líder da oposição conservadora, ligado à indústria petrolífera (em que a Venezuela é destaque mundial de produção), que sem paciência nem respaldo popular suficiente para apontar discordâncias pelas vias democráticas, insiste em realizar um golpe e tirar à força, através do caos e da pressão internacional, a presidência de Maduro.

Hoje, faz-se necessário àqueles que defendem a soberania da América Latina e uma saída socialista para nosso continente, retomar o legado de toda essa história de combate e luta por “Nossa América” e defender as forças progressistas que avançam em vários países, em especial na Venezuela através da Revolução Bolivariana, iniciada pelo líder Hugo Chavez, que, apesar de todas contradições que o país carrega de sua história, vem dando novas perspectivas à população venezuelana, ampliando a democracia, os direitos sociais e fortalecendo a solidariedade entre os povos, isto é, governos democraticamente eleitos, que nos últimos 15 anos desde a chegada de Hugo Chávez à presidência, já realizaram 19 consultas à população – entre eleições, referendos e plebiscitos – e o chavismo saiu vitorioso em 18 delas, promovendo reformas sociais que ampliaram a educação e levando mais saúde para o interior do país, através de convênios com médicos de Cuba, país que há décadas sofre com o embargo comercial norte-americano e hoje tem muito a agradecer pela ajuda venezuelana a seu povo.

A revolução Bolivariana, o líder Hugo Chavez, o presidente Nicolas Maduro e o povo venezuelano devem representar pra nós toda essa história de enfrentamento do nosso povo e que constituem a nossa formação identitária, por isso devemos repudiar qualquer tentativa de golpe que tente impedir ou fazer retroceder os avanços da luta e da resistência latino-americana, só assim conseguiremos dar novos, e cada vez mais largos, passos em direção à soberania e à emancipação de nossos povos.

Abaixo o golpe conservador e imperialista!

Viva Chávez e Maduro!

Viva a América Latina!

*Iago Montalvão é estudante de História, diretor da UNE e presidente do DCE da Universidade Federal de Goiás.