Agente delata crimes cometidos por Uribe e militares colombianos
O jornalista Gonzalo Guillén divulgou recentemente entrevista com o ex-capitão do Exército colombiano, Adolfo Enrique Guevara Cantillo, pseudônimo "101”, onde desvendou o que há muito tempo movimentos sociais e defensores de Direitos Humanos já denunciavam: o conhecimento e a participação direta de Álvaro Uribe e militares em homicídios e crimes graves praticados no país. A entrevista aconteceu em setembro de 2013, mas foi divulgada apenas agora, após investigações acerca das denúncias.
Publicado 04/03/2014 16:22
Guevara Cantillo, hoje preso em Barranquilla, atuou no Exército até 2004. Ele levava uma vida dupla. Ao mesmo tempo em que cumpria suas funções no Exército, onde era chefe de inteligência do GAULA (grupo de elite do Exército Nacional contra a extorsão e o sequestro) no departamento de Magdalena, atuava como integrante na confederação de esquadrões da morte, conhecida como Autodefesas Unidas da Colômbia. Essa dupla função começou a ser exercida em 1998.
O ex-capitão atuou abertamente como agente duplo, chegando inclusive a coordenar, no norte do país, a colaboração criminosa entre militares e paramilitares, sobretudo durante o governo do então presidente Álvaro Uribe, de quem recebeu ordens para cometer assassinatos. Guevara Cantillo cita na entrevista uma das mortes ordenadas por Uribe, a do alcalde do município de Zona Bananeira, Jesús Avendaño Miranda, em junho de 2004.
"Meu comando ‘(Jorge) 40’ me mandava as tropas dele de Autodefesas, e eu as passava como tropas do Exército. Ia ao combate com a guerrilha dirigindo unidades de Autodefesa. (…) Todo mundo sabia. Neste momento eu era tenente”, relatou Guevara, que foi braço direito do chefe paramilitar Rodrigo Tovar Pupo, de codinome "Jorge 40”.
O ex-oficial também denunciou a existência das execuções extrajudiciais chamadas "falsos positivos” e afirmou que esta prática era uma cruel "política de Estado”. Ele assumiu sua participação e detalhou alguns casos, lembrando que, quando as mortes eram solicitadas tirava homens de carros, motos, de casa e os matava.
Os falsos positivos eram uma prática de capturar pessoas, especialmente homens, matá-los e fazê-los passar por guerrilheiros que haviam sido abatidos pelo Exército Nacional. Ao lado dos corpos eram colocadas armas e outras provas que confirmassem sua atuação como guerrilheiro e agente nocivo para o país.
Guevara relatou que a maior parte dos "falsos positivos” foi ordenada pelo general Mario Montoya e algumas vezes por Uribe. O responsável pela "logística” era o coronel Edgar Iván Quiñones Cárdenas, hoje subcomandante da Nona Brigada do Exército. Quiñones assinava as documentações falsas confirmando que os corpos eram de guerrilheiros mortos em combate e conseguia as armas que Guevara colocava ao lado dos corpos.
O ex-oficial Guevara Cantillo se retirou de "suas funções” de maneira voluntária.
Fonte: Adital