Publicado 10/03/2014 11:36 | Editado 04/03/2020 17:16

Brasileiro, publicado originalmente em 1947 pelo jornalista Mário
Filho e entronizado como um estudo clássico do esporte no País. Em
edição bilíngue, a obra insere-se no propósito de realizarmos uma Copa
do Mundo sem racismo. E mais que isso: um reconhecimento da
contribuição do negro à formação social brasileira e exaltação à
mestiçagem que nos distingue como nação.
O racismo é uma das infâmias mais antigas e resistentes desde que o
mundo é mundo. As abolições da escravatura, o avanço geral do processo
civilizatório, o progresso dos direitos humanos atenuaram sua prática
institucionalizada, mas a discriminação e o preconceito sobrevivem não
mais como políticas de Estado e sim nas relações sociais e de
trabalho. No esporte aparece, intermitente mas sempre abjeto, em
manifestações de torcedores contra jogadores negros – ainda que a
torcida não seja um enclave ariano.
Ao contrário, o último episódio de repercussão internacional, quando o
brasileiro Tinga, do Cruzeiro, em jogo com o Real Garcilaso pela
Libertadores, foi apupado por guinchos que o relacionavam ao macaco,
ocorreu no Peru. O país é fortemente miscigenado. A uma pesquisa de
2006 do Instituto Nacional de Estatística e Informação a população
declarou-se mestiça (59,5%), quíchua (22,7%), aimará (2,7%),
amazônicos (1,8%), negra/parda (1,6%), branca (4,9%) e outros (6,7%).
Como podem membros de uma nação com tal composição étnica, construída
com o esforço comum do colonizador espanhol branco, índio nativo e
escravo africano grunhir num estádio de futebol que negro é macaco?
Se é episodicamente contaminado por tais vilanias, o esporte mais
popular do mundo, elevado à categoria de arte justamente pelo bailado
dos jogadores negros, propicia em seu campeonato mundial a
oportunidade de darmos o cartão vermelho a essa atitude infame.
*Aldo Rebelo é ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB-SP.
Fonte: Diário de S. Paulo