Fátima Viana: A América Latina, a Venezuela, e o Brasil

Por Fátima Viana*

A retomada do desenvolvimento no Brasil na última década se dá no contexto da luta pela integração da América Latina, com a conquista do governo de vários países latino americanos por forças políticas progressistas, em aliança com os trabalhadores.

A implantação de políticas públicas voltadas à inclusão de largos contingentes de pessoas implica em deslocamentos de forças políticas da classe dominante nesses países, ao mesmo tempo em que faz surgir novas demandas, cujo atendimento requer o aprofundamento das mudanças e a ampliação do deslocamento das forças conservadoras.

A reação e a pressão das elites têm como sustentáculo a dominação e o controle de importantes setores da economia, da institucionalidade e da difusão de ideias, que continuam sob seu controle, além da fragilidade da organização política dos trabalhadores. No Brasil, essa representação nas casas legislativas e no poder executivo não alcança 30%.

Fracassadas as primeiras tentativas de golpes e de inviabilização dos governos democráticos na Argentina, no Brasil, na Bolívia e na Venezuela, restam aos conservadores a pressão e o bloqueio a Cuba, o cerco ao Paraguai, além da manipulação midiática da contra-informação e da atuação do poder judiciário – conservador e inacessível.

Foi assim a atuação das forças conservadoras nas gestões do “comandante Hugo Chavez” e de Nicolas Maduro, que em 15 anos realizaram 19 consultas à população – entre eleições, referendos e plebiscitos – e foram vitoriosos em 18 destas; de Cristina Kishne; de Fernando Lugo – deposto por um golpe; de Bachelet e de Luiz Inácio Lula da Silva.

No caso do Brasil, os governos de Lula e de Dilma Roussef enfrentaram e enfrentam de forma permanente as tentativas de golpes, ora disfarçados de “ação fiscalizadora da mídia”, ora travestidos de “processo jurídico de combate à corrupção”.

As vitórias políticas das forças progressistas nesses países e no Brasil não foram completas, pois os rompimentos com os entraves ao crescimento, que exigem reformas políticas e econômicas com conteúdo de classe, não ocorreram, permitindo a reorganização dos conservadores e a manutenção de controle destes em áreas importantes do aparato de estado, do sistema financeiro e dos meios de comunicação.

Nos últimos dois anos as forças conservadoras, identificando a contradição existente entre a demanda por maior desenvolvimento e a limitação da correlação de forças, com especificidades em cada país, desencadearam nova ofensiva.

Lastreadas, no Brasil, pelo controle do poder judiciário e da mídia conservadora, as forças do atraso se utilizam do potencial das ruas para tentar desestabilizar o governo da Presidenta Dilma e criar um sentimento de rejeição ao projeto nacional de desenvolvimento.

A divulgação dos indicadores sociais e dos dados da economia é feita de forma deturpada, com o objetivo de disseminar o pessimismo, a rejeição aos protagonistas das mudanças e, principalmente, de desacreditar as forças políticas progressistas à frente do governo.

Foi dessa forma a divulgação do índice de desemprego do Brasil em 2013, o menor da história, compatível com situação de pleno emprego. Da mesma forma foi a divulgação do crescimento econômico em 2013, superior às previsões dos economistas. Assim também foi a divulgação do balanço da maior empresa brasileira, a Petrobrás, com crescimento de 11% superior ao crescimento de 2012, que pela analista da rede Globo era uma empresa ameaçada de falência.

O mesmo ocorre na Venezuela, onde as forças conservadoras internas, em aliança com os EUA, utilizam-se de contradições próprias e da ofensiva de jovens da classe média e dos ricos que perderam privilégios, para criar ambiente externo favorável a um golpe de estado.

A América Latina e o Brasil vivem uma contradição semelhante e a solução adotada poderá condicionar o futuro do continente. A solução que interessa aos trabalhadores e ao futuro é uma só: aprofundar a implantação das mudanças com as reformas estruturais que implicam em afastar em definitivo as forças conservadoras.

*Fátima Viana é Socióloga, Advogada, Diretora do SINDIPETRO-RN, e dirigente estadual do PCdoB/RN