Unasul cria comissão para apoiar diálogos na Venezuela

A União de Países Sul-Americanos (Unasul) concordou, nesta quarta-feira (12), após reunião extraordinária dos chanceleres em Santiago do Chile, em enviar uma missão à Venezuela para assessorar e respaldar o governo de Nicolás Maduro em um diálogo com a oposição, em busca do fim do conflito que se instalou no país desde o começo de fevereiro.

Por Théa Rodrigues, da Redação do Vermelho

Unasul cria comissão para apoiar diálogos na Venezuela - Maglio Perez/Reuters

Em uma declaração ao final da reunião de mais de quatro horas, os chanceleres concordaram em "designar, a pedido do governo da Venezuela, uma comissão integrada por ministros das Relações Exteriores da Unasul para que, em seu nome, acompanhe, apoie e assessore um diálogo político, amplo e construtivo".

O chanceler Winston Lackin, do Suriname (país que exerce a presidência pro-tempore do organismo), coordenou a entrega de um documento de cinco pontos, que estabelecem a forma como o organismo enfrentará a situação na Venezuela.

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Na nota, a Unasul expressou também condolências e solidariedade aos parentes de vítimas e afirmou a rejeição aos atos de violência ocorridos em meio aos protestos na Venezuela durante este mês. O órgão defendeu a liberdade de expressão e reunião pacífica no país.

"Nos sentimos plenamente satisfeitos com a resolução. Nos sentimos acompanhados na luta do povo venezuelano pela democracia, pela paz", disse o chanceler venezuelano, Elías Jaua, ao final da reunião.

A Unasul voltou a demonstrar a sua capacidade de trabalhar em conjunto de forma coesa. O conjunto de países sul-americanos está disposto a avançar com as propostas do presidente venezuelano Nicolás Maduro de fomentar um diálogo pacífico.

As projeções do organismo sul-americano sobre a Venezuela contrariam os meios de comunicação, que ao invés de noticiar os acordos dos chanceleres, preferem contrastar a reunião com imagens de tumultos ocorridos no país bolivariano.

As declarações dos membros reunidos em Santiago do Chile são unânimes em um aspecto: o respaldo ao governo venezuelano, que foi democraticamente eleito. Além disso, os chanceleres demonstraram o repúdio absoluto às tentativas de desestabilização, provenientes de grupos da direita radical.

O chanceler chileno Heraldo Muñoz se referiu às manifestações que aconteceram no país e afirmou que “sempre vamos tentar proteger os direitos humanos, mas não por isso vamos aceitar que mobilizações violentas tentem derrubar um governo legitimamente constituído”.

A garantia à soberania venezuelana e o respeito aos direitos humanos se tornou uma preocupação comum aos governos progressistas da América Latina, que também lutam para garantir a independência de seus países e evitar as intervenções e ingerências de outrora.

Mesmo antes do início do encontro, o representante equatoriano Ricardo Patiño já anunciava que “a nossa missão é sempre a de defender a paz na região, tendo em vista o respeito à institucionalidade de cada país, e não será diferente no caso da Venezuela”.

Tal solidariedade só é possível graças aos esforços pela integração dos povos do continente, o que é explícito através da consolidação dos blocos regionais como a Unasul, o Mercosul, a Alba e a Celac. Portanto, quaisquer tentativas de desestabilização de um país, podem ameaçar as conquistas desses grupos.

Desta forma, a última reunião dos chanceleres da Unasul não é apenas “uma ajuda” ao país da Revolução Bolivariana, mas sim a representação mais clara de que a América Latina começa a caminhar com as próprias pernas e tomar suas decisões conjuntas em benefício da unidade dos povos.

Leia a seguir os cinco pontos do acordo da Unasul:

1. Respaldar os esforços dos governo venezuelano para propiciar o diálogo com os diferentes atores envolvidos no conflito;

2. Designar uma comissão integrada por chanceleres da Unasul, para assessorar o diálogo político orientado a recuperar a convivência pacífica;

3. Instruir a presidência pro-tempore da Unasul a organizar o trabalho da comissão de chanceleres, cuja primeira visita à Venezuela deverá acontecer no mais tardar na primeira semana de abril;

4. Solicitar, para o antes possível, um relatório da atividade da comissão de chanceleres, que será analisado pelo Conselho de Ministros da Unasul;

5. Expressar nossa preocupação por qualquer ameaça à independência e a soberania da Venezuela.