Farc retomam diálogo com o governo e pedem atenção aos camponeses

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pediram que o governo de Juan Manuel Santos atenda as exigências que os trabalhadores rurais fizeram durante a Cúpula Nacional Agrária, Campesina, Étnica e Popular, realizada no último dia 15 de março. Ambas as partes reiniciaram nesta sexta-feira (21) o 23º ciclo de conversações sobre o fim do conflito.

Farc retomam diálogo com o governo e pedem atenção aos camponeses - El Espectador

 “Expressamos solidariedade incondicional com os camponeses, porque são estas vozes que devemos escutar para construir um verdadeiro acordo de reconciliação”, afirmou a delegação das Farc para as negociações de paz, após criticar duramente as reuniões neoliberais e o Pacto Agrário, que não levam em conta as reais necessidades dos menos favorecidos.

Os representantes da insurgência reafirmaram que as reformas estruturais no campo são urgentes e, por isso, pediu que o governo colombiano aja o mais breve possível. Ainda que a questão agrária tenha sido o primeiro ponto pré-acordado entre as partes no processo de paz, somente após a finalização de todos os pontos da agenda (acordo geral) é que será iniciado o que é chamado por especialistas de “pós-conflito”, quando esses acordos devem ser transformados em realidade.

No entanto, para as Farc, “se o governo não demonstra, de maneira prática, sua disposição para mudanças, se o que brinda como promessa não se concretiza em ações para o exercício da democracia, acaba abalando a confiança em um processo de paz”. Uma das exigências dos camponeses é a Reforma Agrária Integral – o que, inclusive, deu inicio à luta armada no país, há mais de meio século.

Destituição de Petro

O líder da delegação guerrilheira, Iván Márquez, se referiu à decisão do presidente Juan Manuel Santos de acatar a decisão da Procuradoria Geral sobre a deposição do prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, como um "ataque surpresa" e qualificou a ação como “absurda”.

Da mesma forma, Márquez afirmou que isso gera um clima de dúvidas na mesa de diálogo, principalmente com relação à futura aplicação do acordo parcial sobre a participação política.
“Com este tipo de atitude, não é possível expandir a democracia na Colômbia, pois se desconhece a vontade do povo que levou Petro ao poder”, assinalou o membro da guerrilha.

Cessar-fogo

Márquez lembrou também a recusa do governo à proposta das Farc de um cessar-fogo bilateral, com a assinatura de um tratado de regularização da guerra para minimizar os efeitos sobre a população civil e os combatentes.

As Farc reiteraram ainda a necessidade de uma solução definitiva para o conflito e também de estabelecer uma Comissão da Verdade sobre o confronto. Segundo a guerrilha, não se pode acusar apenas um dos envolvidos, tampouco estabelecer como juiz nenhum dos participantes do processo de negociação pela paz.

“Presumir que sobre a guerrilha recai toda a responsabilidade dos danos é uma apreciação irreal que atrapalha a intenção de alcançar a paz e a reconciliação nacional”, disse Márquez.

Retomada

Neste novo ciclo as partes negociam o terceiro ponto agenda: as drogas. A guerrilha propôs um plano para regularizar o cultivo e a comercialização de plantas utilizadas na produção de drogas. O processo de paz foi inciado em 2012 e acontece em Havana, capital de Cuba.

Théa Rodrigues, da redação do Vermelho,
Com informações da Prensa Latina