Direita ganha apoio em Israel no fim da negociação com palestinos

Uma pesquisa de opinião conclui que, no fim das negociações entre Israel e a Autoridade Palestina (AP), a direita israelense, que tem atuado agressivamente durante o processo, ganha apoio político. Depois de a AP apelar às Nações Unidas em alternativa à postura do governo israelense, o ministro da Economia de Israel Naftali Bennett pede a anexação de territórios palestinos e ameaça a coalizão de governo caso o prazo para as negociações seja estendido.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Naftali Bennett e Benjamin Netanyahu - Miriam Alster/Flash90/ Times of Israel

A pesquisa de opinião divulgada nesta quinta-feira (10) pelo jornal israelense Ha’aretz indica que o apoio ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do partido de direita Likud, e a outros partidos deste setor está aumentando, embora, ressalta o diário, “o real vencedor desta competição de popularidade seja o chefe das Forças Armadas, Benny Gantz.”

Enquanto os críticos do governo preocupam-se com o aumento da pressão internacional contra a retórica inflamada e à prática da extrema-direita, com a sua defesa acirrada da anexação dos territórios palestinos em que constroem colônias a ritmo acelerado, a notícia sobre o aumento do apoio a Netanyahu é uma advertência.

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No início da semana, o governo israelense anunciou sanções políticas e econômicas à Autoridade Palestina (AP) devido à sua candidatura para a adesão a mais de 10 convenções internacionais, processo já iniciado pela Organização das Nações Unidas (ONU),  uma resposta palestina à recusa israelense em liberar o último grupo de prisioneiros. O governo de Netanyahu acusa a AP de minar a diplomacia com esta medida, enquanto continua expandindo as colônias na Cisjordânia em detrimento das negociações e apesar das advertências – ainda que brandas – emitidas inclusive por aliados como os EUA e a União Europeia.

O secretário de Estado norte-americano John Kerry tem tentado levar Israel e a AP a aumentar o prazo para as negociações, que se encerraria em 29 de abril, mas grande parte das autoridades palestinas rechaça a proposta, assim como partes expressivas da população, embora a AP tenha feito demandas para que isto aconteça. 

A extrema-direita de Israel, porém, também se opõe à extensão, como reafirmou o ministro Bennett, representante do movimento de colonização e ocupação. Nesta quinta, Bennett ameaçou novamente a coalizão de Netanyahu com a retirada do seu partido colonialista, Lar Judeu, o que desestabilizaria o governo formado no início do ano passado.

Entretanto, a tendência, segundo diplomatas estadunidenses envolvidos na questão, é a renovação do processo que, em nove meses de conversações, continua em um impasse estrutural e com resultados nulos a apresentar, a não ser pelas discussões acaloradas que as propostas “securitárias” dos EUA, com vantagem expressiva para a expansão da ocupação israelense, acabaram gerando. A frustração dos palestinos é crescente com mais este fracasso e a incitação da opinião pública em Israel contra o posicionamento da AP, como é de praxe, é a resposta automática à visível responsabilidade israelense pela falta de solução à questão.

Sanções, anexação e a lição à extrema-direita

Na quarta-feira (9), além de vetar as reuniões entre autoridades israelenses e palestinas em vários âmbitos, Netanyahu também ordenou ao Ministério das Finanças a suspensão do repasse dos impostos que recolhe em nome da AP – uma provisão enredada nos Acordos de Oslo, do início dos anos 1990, que deveriam ser interinos, mas que se perpetuaram. O valor dos impostos a ser repassado à AP é de US$ 28 milhões por mês (R$ 61,72 milhões).

O diplomata palestino encarregado das negociações, Saeb Erekat denominou a decisão israelense de impor a sanção à AP – supostamente em resposta pela candidatura às convenções internacionais – de um “roubo parecido com a pirataria”, contrário ao direito internacional e aos tratados. Mas a violação destes instrumentos é prática recorrente do governo israelense e não mudaria quando gera a chance de transferir a culpa aos palestinos pela crise nas conversações, como costuma fazer.

Não bastasse, Bennett também instou Netanyahu a convocar uma reunião do seu gabinete de governo para discutir a anexação dos grandes blocos de colônias (Ariel, Ma’ale Adumim, Alfei Menashe e Gush Etzion), alguns com estatuto de cidades, em pleno território palestino, uma proposta que conta com simpatizantes declarados.  O ministro disse ao Ha'aretz que pretende embarcar em uma campanha midiática para promover o plano, o que pode remeter ao lobby israelense nos Estados Unidos, um dos responsáveis pelo papel negativo deste que se apresenta como “mediador” das negociações com a AP frente à expansão da ocupação israelense nos territórios palestinos.

Segundo Bennett, que propõe a concessão de cidadania israelense aos palestinos que vivem nestes territórios ("para provar que não existe segregação"), o plano de anexação também resultaria na “diminuição do escopo de discussões para as negociações futuras”, como se tratasse de uma posição construtiva em prol da diplomacia, e não da continuidade da expropriação da Palestina, em violação de inúmeras leis internacionais e do direito dos palestinos à autodeterminação.

Este é o esforço da extrema-direita para amenizar a sua retórica agressiva frente às advertências recebidas de seus aliados, embora o projeto de ocupação e colonização mantenha-se inalterado. E o aumento do apoio ao governo de Netanyahu mostra que a tendência vai em direção às maiores dificuldades para a diplomacia.

A única ainda tentando recuperá-la é a ministra da Justiça e chefe da equipe israelense nas conversações, Tzipi Livni, apresentada como uma “liberal de centro-esquerda,” a fração em decadência nas pesquisas de opinião. Caso as eleições fossem antecipadas e realizadas em breve, como propôs o chanceler da direita racista Avigdor Lieberman, a distribuição dos assentos do parlamento israelense (Knesset) retiraria quatro assentos dos três partidos classificados como de esquerda, em comparação com uma consulta realizada há seis meses, enquanto os dois maiores da direita ganhariam sete assentos.

Como não podia deixar escapar, em um país altamente militarizado, a pesquisa indica também que a popularidade dos oficiais israelenses está em ascensão: o tenente-general Benny Gantz está no topo da lista, com 78% de aprovação e apenas 7% de insatisfação. Para o articulista Yossi Verter, que analisou os resultados em artigo para o Ha’aretz, Gantz não é um militar brilhante e é justamente a sua mediocridade o que o tornou o “soldado número um” de Israel, o “papai de todos os soldados” que “só quer voltar a salvo para casa.” Contrasta com a posição da extrema-direita raivosa que, entretanto, tem aprendido a lição do comedimento para manter o estado das coisas, ou seja, a ocupação dos territórios palestinos.