Depois de congresso, Cultura Viva Comunitária abre novo ciclo

Com a presença de cinco ministros da cultura, além de seis representações de Estado, mais a Secretaria Geral Ibero-americana e 500 participantes de redes de cultura viva comunitária de 17 países, encerrou-se neste domingo (13) o VI Congresso Ibero-americano de Cultura na cidade de San José, Costa Rica. O evento abriu um novo ciclo para a rede de cultura viva que, pela primeira vez, foi realizado com a oficialidade em um evento multilateral.

congresso Cultura Viva - Carla Santos

Um marco deste novo ciclo foi o lançamento do 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, a ser realizado no primeiro semestre de 2015 na Guatemala. Além disso, foi apresentada a proposta de um festival latino-americano de cultura viva comunitária, a ser realizado na cidade de Campinas, para dar visibilidade e potência à produção artística e estética do movimento.

A reunião do pleno do Conselho da Plataforma Puente – a rede de redes que tem tecido as ideias e ações de cultura viva comunitária pelas américas –, a se realizar de 24 a 27 de julho na cidade de São Paulo, Brasil, deve alinhavar os próximos passos rumo ao Congresso da Guatemala, como também avaliar a proposta do festival.

Para completar este novo ciclo, a declaração final do Congresso Ibero-americano defendeu o Fundo de Apoio Iber-Cultura – uma proposta brasileira de cooperação internacional para fomentar ações continentais de cultura viva –, como estratégico para a integração e desenvolvimento econômico e social entre as nações ibero-americanas.

O documento – assinado pelos ministros da Cultura da Costa Rica, El Salvador, Espanha, Guatemala e Paraguai, além de representantes oficiais da Argentina, Brasil, Chile, México, Panamá e Uruguai, e a Secretaria Geral Ibero-americana (Segib) – bem como o texto produzido pelo encontro de representantes do Conselho da Plataforma Puente, seguirá para a Conferência de Ministros, a se realizar em agosto, e também para a Cúpula Ibero-americana de chefes de Estado, que acontece em dezembro.

Brasil sediará reunião do Iber-Cultura

Durante o Congresso, o Ministério da Cultura do Brasil, através da secretária da Diversidade e Cidadania Cultural, Márcia Rollemberg, empenhou-se em mobilizar os países vizinhos e além mar para a reunião de trabalho sobre o Fundo Iber-Cultura, que se realizará em maio na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, durante a Teia Nacional – evento que reúne os pontos de cultura e deve avaliar os 10 anos de implementação do Programa Cultura Viva no Brasil.

Além do Iber-Cultura, a reunião de ministros e autoridades trouxe com força o tema da violência na América Central. Manuel Obregón, músico e ministro do país anfitrião do Congresso, defendeu, em inúmeras ocasiões, aumentar o orçamento da cultura e diminuir o da militarização.

Em entrevista, Obregón disse estar emocionado e muito satisfeito com a realização do Congresso em seu país. “Creio que o impacto que teremos na Costa Rica após a realização deste congresso é difícil de medir. Foi um momento de harmonia que, dentro das possibilidades de nossas forças, buscou contribuir para que conquistemos uma cultura de paz contra a violência”, destacou.

Da Ibero-america para o mundo

Após uma década de experiências, o tema da cultura viva comunitária finalmente começa a ter o seu devido valor junto aos governos. O Congresso Ibero-americano de Cultura, mais do que adotar o tema como central, criou, pela primeira vez, um espaço de diálogo entre as redes e os governos que até então não existia.

“Andamos muito para chegar até aqui. Essa viagem com tanta gente ao redor de cada pequeno grupo é muito valiosa. Cada um deles é a coletividade do outro. Com nosso amigo Obregón, encontramos o melhor cenário para o diálogo afetuoso, franco e sincero. Vamos seguir pela Ibero-america, cruzando a América do Sul e Central, para quem sabe chegarmos a África e outros continentes com países lusófonos e hispânicos. Vamos aproveitar este espaço da cultura viva comunitária”, celebrou Jorge Blandon, articulador da Plataforma Puente em Medelín, na Colômbia.

Na intersecção entre o fim e o começo

Para Célio Turino, o brasileiro idealizador do cultura viva, um dos responsáveis por fazer espalhar a semente que tem brotado pelo continente, este é um duplo fim para um novo começo.
“Para mim é como um cierre (fechamento em espanhol) de um ciclo para o cultura viva e pessoalmente, como gestor. Aqui, pela primeira vez, um organismo internacional de Estado discute uma política pública criada de baixo para cima. E agora creio que há outros caminhos. Agora quero me dedicar a erradicar o analfabetismo no Brasil. Temos 8,7% de analfabetos. Isso é vergonhoso para o nosso país”, avalia Célio.

Já para a cubana Yenia Castañeda Castellanos, do Conselho Nacional de Casas de Cultura de Cuba, o Congresso foi uma dupla abertura. Aos 38 anos, é a primeira vez que a conselheira visita um país estrangeiro.

“Estou encantanda de estar aqui. Parece que vivi os cinco últimos anos da minha vida em três dias. Há muito tempo trabalho com cultura viva comunitária no meu país. Sabemos o que é, mas viver isso continentalmente é outra coisa. De tudo que vi, o que mais me impressionou é a força da aliança, da rede”, conclui.

A cobertura colaborativa do Congresso Ibero-americano envolveu diversas redes culturais, entre elas a Rede Mocambos. O evento foi transmitido ao vivo via TV web, além de debater a democratização da mídia, o compartilhamento de ferramentas e plataformas livres e a defesa de políticas públicas que valorizem rádios comunitárias e a mídia alternativa.

Fonte: Laboratório de Políticas Culturais