Preso político do Paraguai envia carta à opinião pública

Um dos líderes de Curuguaty, Rubén Villalba, ao contrário dos outros quatro companheiros em greve de fome, não conquistou o direito de cumprir sua pena em regime domiciliar. Eles fizeram 58 dias de protesto sem ingerir nenhum tipo de alimento para pressionar o poder público a mudar a decisão judicial sobre o formato da pena a que foram condenados. São acusados da morte de seis policiais durante o Massacre de Curuguaty.

Por Mariana Serafini, do Vermelho

Campanha "No estamos todos, falta Rubén" - Reprodução

No último sábado (12), a justiça oficializou a mudança da pena e na segunda-feira (14) os cincos presos políticos foram trasladados para Curuguaty, cidade onde vivem as famílias. Porém isso não aconteceu com Rubén, que ao chegar em casa foi levado novamente par ao presídio de Tacumbú, mesmo com a saúde visivelmente debilitada devido ao tempo que ficou sem ingerir alimentos.

A justiça paraguaia acusa Rubén de ter invadido uma propriedade privada em 2008, no município de Jasy Kañy, no mesmo departamento de Curuguaty, Canindeyú. No Paraguai esse episódio é conhecido como “O Caso Pindó”. Desde então não havia nenhuma denúncia contra Rubén, que agora, quando estava prestes a cumprir sua pena longe do desumano presídio de Tacumbú, na região metropolitana de Assunção, voltou a ser detido em regime fechado.

Diante desta clara perseguição política, Rubén decidiu se pronunciar. Desde Tacumbú ele enviou uma carta à opinião pública onde critica o governo e a justiça paraguaios e reafirma sua luta por liberdade, justiça e terra.

Confira a carta na íntegra:

“À opinião pública,

Daqui da prisão, me dirijo a todos como um preso político perseguido para fazer escutar minha voz, desde Tacumbú.

O poder judicial classista e oligarca segue fazendo-me passar uma vía crucis pela minha condição de dirigente camponês com consciência de classe.

O caso “Pindó”, Jasy Kñay, não passa de um pretexto para me trazer novamente a este lugar desumano, quando na verdade o que eu fiz foi defender, junto aos meus companheiros, a nossa comunidade que estava sendo fumigada em 2008 por brasileiros que fazem o que querem em nosso país, usam e abusam, como diz o presidente Horácio Cartes.

Com esta queda se evidencia claramente a perseguição política a que somos submetidos, nós, os dirigentes camponeses, por defender nossas comunidades.

Neste Dia Internacional dos Presos Políticos, lhes peço com força para seguirem lutando pela liberdade de todos os presos políticos e se somarem com determinação para repudiar o poder judicial classista e oligarca do Paraguai.

Deixo a todos meu carinho, meu afeto e um forte abraço.

Rubén Villalba

17/04/2014,

Assunção, Paraguai”.