Comissão da Verdade da UFBA ouve alunos perseguidos na ditadura

A Comissão Milton Santos de Memória e Verdade da Universidade Federal da Bahia (UFBA) realizou, na última terça-feira (22/4), em Salvador, mais uma audiência para apurar os casos de violações de direitos humanos que envolveram a instituição, durante a ditadura militar (1964-1985). Nessa oitiva, que já é a nona, foram ouvidos ex-alunos perseguidos pelos militares.

Os três são Maria Liége Rocha (ex-aluna de Biblioteconomia e Documentação, ativista do movimento feminino pela Anistia e ex-presidente da União de Mulheres de Salvador), Javier Alfaya (ex-aluno de Arquitetura e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes) e Sergio Passarinho (ex-aluno de Arquitetura e ex-presidente da União dos Estudantes da Bahia).

Liége viveu os tempos mais duros da ditadura. Entrou na Universidade em 1967 – um ano antes do Ato-Institucional nº 5 –, e, no mesmo ano, entrou para o Diretório Acadêmico. Por conta da participação no movimento estudantil, ela foi impedida de se matricular três anos depois, em 1969.

A suspensão de Liége aconteceu antes de ser baixado o decreto-lei nº 477, conhecido como o “AI-5 das universidades”, que punia estudantes e professores considerados subversivos. Por conta disso, a ex-aluna questiona: “Se não tivesse sido conivente com a ditadura, o que levou a UFBA a cassar matrículas antes do 477? Foi a pressão dos militares?”.

Mesmo com a matrícula cancelada, a líder estudantil continuou a freqüentar a UFBA, até que uma denúncia foi feita à Polícia Federal, que impediu as visitas. Liége caiu na clandestinidade em 1970, foi presa duas vezes e teve a casa invadida também duas vezes, pelos militares. Só conseguiu concluir o curso em 1976.

Censura aos estrangeiros

Javier Alfaya entrou na Universidade em 1975, passado o período duro da ditadura, quando o decreto-lei nº 477 já não tinha mais força. No entanto, a perseguição ao então estudante aconteceu devido ao fato de ele ter nascido na Espanha. No período ditatorial, os estrangeiros eram proibidos de emitir opinião política.

Apesar de reconhecer a participação da UFBA no golpe militar, Alfaya faz uma ressalva: “Claramente, reitores da Universidade apoiaram o Golpe, mas é bom dizer que na UFBA havia muita gente que resistia”.

Os depoimentos obtidos no evento integrarão o relatório que será apresentado à comunidade universitária e à Comissão Nacional da Verdade, com o objetivo de que subsidiem os trabalhos realizados em território nacional. Mais informações estão no site www.comissaoverdade.ufba.br.


De Salvador,
Erikson Walla