Lula fala de crescimento inclusivo e desenvolvimento da África

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do Fórum Econômico Mundial sobre a África, nesta quinta-feira (8), falando sobre a orientação nacional no caminho para o crescimento inclusivo. O Fórum acontece na capital da Nigéria, Abuja, de quarta (7) a sexta-feira (9). Lula foi entrevistado por Carlos Lopes, da Guiné Bissau, subsecretário-geral e secretário executivo da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África (Uneca).

Lula Fórum Econômico Mundial sobre África - Ricardo Stuckert / Instituto Lula

Lula esteve também em Angola, nesta quarta-feira (7), onde discursou sobre como a experiência brasileira no combate à fome e à miséria pode servir de estímulo ao desenvolvimento de políticas públicas no continente africano. De acordo com o Instituto Lula, o ex-presidente e a ex-ministra do Desenvolvimento Social, Márcia Lopes, participaram, juntamente com a ministra angolana do Comércio e Combate à Pobreza, Rosa Pacavira, do seminário “Experiências do Combate à Fome e à Pobreza em Angola e no Brasil”, organizado pelo Instituto Lula e pela Fundação José Eduardo dos Santos.

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Mais de metade das 10 economias que crescem mais rapidamente no mundo estão na África, e a economia do continente deve crescer mais de 5% neste ano. Segundo Mark Suzman, economista que participa do Fórum Econômico Mundial sobre a África, apenas na parte subsaariana, em geral, a taxa anual de crescimento econômico ultrapassou e muito aquela de países mais ricos, parte da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE).

Em 2013, a África atraiu a cifra recorde de US$ 42 bilhões (R$ 93 bilhões) em investimento estrangeiro direto. Além disso, há progressos ainda mais rápidos no continente, com a melhoria significativa de indicadores socioeconômicos centrais, como a educação primária e a redução da mortalidade infantil e materna, embora a variação entre os países ainda seja extrema: quase metade da população africana vive em extrema pobreza.

Crescimento inclusivo

Na conversa com Lopes, que foi intitulada “Como orientar uma nação no caminho do crescimento inclusivo”, Lula reafirmou o que disse, em entrevista, ao Jornal de Angola, nesta quarta-feira (7): “Não há uma fórmula igual para todos os países, porque cada nação tem a sua própria realidade econômica, e a sua situação política. Mas o que eu acho fundamental é incluir os mais pobres no orçamento público. Aqueles que não estão organizados em partidos, em sindicatos. E ver os recursos para a área social – para a saúde, para a educação, para a moradia – não como um gasto, mas como um investimento que o país faz no seu próprio povo”.

“No Brasil, combinamos uma série de programas sociais, fizemos uma forte política de crédito para a população, incentivamos a regularização dos microempreendedores. Esse conjunto de ações resultou no maior programa de inclusão social da história do país. Criamos 21 milhões de empregos, tiramos 36 milhões de pessoas da extrema pobreza, e 42 milhões ascenderam à classe média”, continuou o ex-presidente.

O principal programa de transferência de renda, o Bolsa Família, já considerado um modelo por diversas organizações globais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o próprio Banco Mundial, “transfere recursos para as mães das famílias mais pobres, que mantêm os seus filhos na escola e as suas vacinas em dia. O dinheiro, ao chegar à mão dos mais pobres, é distribuído preferencialmente às mães. O dinheiro não fica parado num banco, mas é transformado em alimento para as crianças, roupas e material escolar”, explica Lula.

“Esse programa”, continua, “integrado em outras iniciativas, gerou um grande mercado interno, que movimentou o comércio, que por sua vez movimentou a indústria, gerando mais empregos. Os pobres deixaram de ser um problema e passaram a ser parte da solução”.

Integração africana, combate à miséria e autossuficiência

Retomando o trabalho que o Instituto Lula realizou em conjunto com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e com a União Africana, o ex-presidente saudou a integração dos países africanos como “a maior obra em construção no continente. Mas é claro que ainda há muito a ser feito”.

“O maior desafio é o combate à fome e à miséria. A África tem todas as condições para se tornar autossuficiente na produção de alimentos, como já foi no passado pré-colonial. E para produzir alimentos, é preciso produzir energia. A África pode ampliar a produtividade do campo e criar programas que garantam o acesso das pessoas aos alimentos.” O continente aceitou o desafio de erradicar a fome e a miséria até 2025, o que Lula disse considerar “plenamente possível”.

“A nossa compreensão é que o problema da fome não pode ser resolvido por projetos pontuais, mas com políticas públicas e programas sociais que garantam a alimentação como um direito de todo o cidadão”, afirmou o ex-presidente, que ainda saudou o fortalecimento da União Africana, do Banco Africano de Desenvolvimento, da Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD) e das Comunidades Regionais.

Ressaltando outros avanços, Lula disse: “Eu particularmente fico muito feliz por ver o continente africano, neste século 21, consolidando a democracia na maioria dos países, com a compreensão de que a paz impulsiona o desenvolvimento”.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho