Manuel Vázquez: A Síria antes das eleições presidenciais
A menos de um mês das primeiras eleições presidenciais multipartidárias da Síria nos últimos tempos, previstas para o próximo dia 3 de junho, já se candidataram todos os grupos sociais que de uma ou outra maneira se sentem participantes ou afetados
Por Manuel Vázquez*, na Prensa Latina
Publicado 16/05/2014 09:32
Depois de sua aprovação pelo Parlamento, e segundo anunciou a Corte Constitucional Suprema, três candidatos se submeterão nas urnas à vontade popular: o atual presidente, Bashar Hafez al-Assad, Maher Abed al-Hafiz Hayyar e Hassan Abd-Allah al-Nuri.
Segundo a lei eleitoral síria, para finalmente obter a categoria de candidato, os três aspirantes (de um total de 24) obtiveram o apoio de ao menos 35 parlamentares.
Maher Abed al-Hafiz Hayyar, nascido na região norte, na cidade de Alepo, tem sua origem política vinculada ao Partido Comunista. Hassan Abd-Allah al-Nuri é um homem de negócios nascido em Damasco, que cursou estudos superiores em universidades dos Estados Unidos.
Segundo manifestaram à Prensa Latina vários sírios, al-Assad conta com uma notável vantagem à frente de seus oponentes, realmente desconhecidos entre a população: um manifesto e extenso apoio popular que recentemente tem desbordado ruas e praças de numerosas cidades, entre elas, Damasco, Izraa (Deraa), Tartous, Latakia e Sweida.
Terreno complexo
Sem dúvidas, a realização das eleições em um país em guerra requer superar dificuldades reconhecidas por todos. Não obstante, o previsível acesso do povo às urnas apresenta nestes momentos uma situação favorável com respeito ao que ocorria há meio ano.
Os primeiros cinco meses de 2014 caracterizaram-se por um avanço sustentado do Exército Árabe Sírio sobre posições mantidas em mãos dos grupos irregulares armados, principalmente na região ocidental do país, a mais povoada.
Assim, o governo conseguiu o controle da cidade de Homs, palco de cruéis e prolongados combates entre o Exército e os grupos de extremistas islâmicos nela entrincheirados.
Depois de um acordo fruto de complicadas negociações, cerca de dois mil homens armados abandonaram a cidade que, dessa maneira, recupera um clima de tranquilidade adequado para as eleições. Em outras cidades sírias a situação é mais complexa, como em Alepo, onde previsivelmente no próximo dia 3 de junho pode vir a ser um palco de combates.
Nos arredores de Damasco o Exército desalojou os irregulares da localidade de Mleha, uma das zonas de onde esses grupos lançavam ataques com morteiros contra municípios próximos, principalmente Jaramana. No entanto, prossegue a ofensiva governamental nas cidades de Jobar e em Dareya, adjacentes à capital.
Embora os progressos militares das Forças Armadas, se revertam em maiores espaços pacificados, e avance o processo de reconciliação nacional, que persegue igual propósito, os grupos armados irregulares incrementam suas ações contra a população civil procurando, entre outros objetivos, entorpecer a realização das eleições.
Bairros residenciais de Damasco, Idleb, Homs, Alepo e Hama, entre outras cidades, têm sido testemunhas em semanas recentes de atentados com o emprego de carros bomba, artefatos explosivos improvisados, lançamento de projéteis de morteiro e foguetes, os quais têm tirado a vida de centenas de cidadãos, entre eles numerosas crianças e jovens.
Assim também, e com o propósito de gerar um ambiente de ingovernabilidade no país que afete a realização das eleições presidenciais, os grupos armados incrementam as sabotagens contra as instalações do sistema elétrico nacional sírio em todas as regiões do país.
No final de abril, esses grupos atacaram o Gasoduto Árabe deixando fora de serviço as usinas geradoras de eletricidade (com capacidade de dois mil megaWatts) que alimentam a Zona Sul, o que provocou um sensível aumento nas horas de racionamento elétrico nas províncias de Damasco, Damasco Campo, Suweida, Deraa e Quneitra.
Como resultado de ações similares em várias regiões, 8 de maio, segundo revelou o Ministério de Energia Elétrica, do total de 54 turbinas de gás geradoras de eletricidade no país, 32 se encontravam fora de serviço.
Por outra parte, os mesmos países que propiciaram e estimularam o começo da guerra na Síria, incrementam seu apoio e ajuda militar aos extremistas islâmicos.
Os Estados Unidos chegaram inclusive a reconhecer publicamente o envio aos grupos armados de foguetes antitanque TOW, enquanto o Reino Unido anunciou o fornecimento a esses grupos de uma ajuda militar "não letal".
A Turquia não esconde que apoia com suas próprias forças armadas as ações militares dos extremistas islâmicos que, do território turco, invadiram o norte da província síria de Latakia.
Tudo isso, de fato, constitui apenas a superfície de uma continuada, muito maior e maciça operação subversiva contra o governo sírio.
Dessa maneira pode-se supor que depois da provável vitória nas urnas de al-Assad, essas nações, junto a vários aliados regionais, utilizem qualquer argumento para desconhecer a vontade do povo sírio e persistam em utilizar a via armada para perseguir seus objetivos no país.
*Correspondente da Prensa Latina na Síria.