Chanceler de Hollande tenta convencer os EUA a atacarem a Síria

O ministro das Relações Exteriores de François Hollande, Laurent Fabius, deslocou-se a Washington para incitar os Estados Unidos a entrar em guerra com a Síria, para derrubar Bashar al-Assad e lamentou que isso não tenha acontecido quando esteve iminente, em meados do ano passado.

Por Sylvie Moreira, de Paris para o Jornalistas sem Fronteiras

França Estados Unidos - Ian Langsdon/EPA

“A França não agirá sozinha”, disse Fabius em Washington, garante uma fonte do Quai d’Orsay, segundo a qual em muitos anos de experiência não encontrou um ministro com uma ideia tão fixa num conflito.“Nem mesmo quando foi do envolvimento na guerra da Líbia a disponibilidade do ministro de então para a guerra foi tão ostensiva”, acrescentou.

“Mas as circunstâncias levam-me a pensar que não é apenas o ministro, e sim quem o manteve, apesar da remodelação governamental”, disse o funcionário diplomático, deixando em aberto os intuitos belicistas do próprio presidente Hollande.

O pretexto invocado por Fabius na capital federal norte-americana foi ainda o do massacre químico de Ghouta, em 21 de Agosto do ano passado, e que o ministro francês continua a pretender atribuir ao regime de Assad, quando no mundo já ninguém acredita nisso, tanto através da apresentação de provas circunstanciais como dos desenvolvimentos posteriores.

Nem o governo Obama tem hoje dúvidas de que os autores do massacre foram “rebeldes” associados à rede Al-Qaida, os mesmos que têm em seu poder os últimos contêineres de materiais químicos que eram do Exército sírio, impedindo que sejam desmantelados através do processo internacional acordado com Damasco.

Laurent Fabius é uma figura de grande relevo no lobby israelense mundial. “Não tenho dúvida de que essa foi uma das razões pelas quais sobreviveu à remodelação governamental”, diz a mesma fonte do Ministério francês.Nos meios políticos franceses sabe-se que Fabius é igualmente partidário de uma guerra contra o Irã, tal como a administração nacionalista de Israel.

Em Paris, admite-se que o assunto tenha sido ventilado também em Washington, no contexto global envolvendo a Síria, o Irã e o alegado papel da Rússia na crise ucraniana.“Não tenho qualquer dúvida de que esta atividade intensa do ministro tem a ver com a estratégia de criar agitação em volta das eleições presidenciais sírias, tentando desvalorizá-las, porque sabe que a sua realização revela uma derrota da intervenção ocidental, em que a França se envolveu a fundo”, afirma a fonte do Quai d’Orsay.

“Mas tem também a ver com a mensagem dominante em Israel, que em muitos aspectos não coincide com a de Obama”, sublinhou.

Fonte: Jornalistas sem Fronteiras