Palestina: Governo de unidade toma corpo e Barghouthi venceria eleição

Depois de o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu ameaçar demitir a ministra da Justiça Tzipi Livni da coalizão governamental, como reprimenda pela reunião com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, na semana passada, o governo palestino de unidade toma corpo, com base no recente acordo de reconciliação nacional. Uma fonte da AP citada pela agência Ma’an, nesta quinta-feira (22), informou que o atual primeiro-ministro Rami Hamdallah chefiará o governo transitório.

Hamas e Autoridade Nacional Palestina - Amr Nabil/AP

O Acordo de Doha, assinado em 2012 entre membros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) – formada por 13 partidos e movimentos políticos palestinos – e o Hamas – movimento islâmico que governa a Faixa de Gaza desde a ruptura intranacional, em 2006-2007 – previa que o presidente Abbas seria o chefe do governo de transição, até que as eleições fossem realizadas.

Entretanto, após novas negociações, impulsionadas pelo acordo anunciado em abril, um governo "tecnocrático" está sendo formado e ficará sob a liderança de Hamdallah, com a integração do Hamas e o movimento Jihad Islâmica. Devem encerrar-se assim os sete anos de ruptura entre os governos do território litorâneo e da Cisjordânia, politicamente divididos após os confrontos que se seguiram às eleições de 2006.

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“O governo está quase pronto e Rami Hamdallah será o primeiro-ministro,” disse um funcionário do governo na Cisjordânia, próximo às negociações de reconciliação. O presidente Abbas informou Hamdallah da decisão na quarta-feira (21). Bassem Naim, conselheiro de Ismail Haniyeh, que também ficou como primeiro-ministro em Gaza, disse que o Hamas não se opõe à decisão, de acordo com a agência palestina Ma’an.

Um membro do partido de Abbas, Fatah, disse que o líder da sua delegação nas negociações de reconciliação, Azzam al-Ahmed deve visitar Gaza no domingo (25) para “finalizar as consultas” sobre o novo governo, de acordo com Naim. Já Al-Ahmed disse que o novo governo deve estar pronto até o fim deste mês, conforme anunciado em 23 de abril, quando o Hamas e a OLP, liderada pelo Fatah, assinaram o acordo de reconciliação para reunificar o governo palestino. A nova configuração ainda deverá ser aprovada pelo parlamento palestino, que também terá eleições, segundo o acordo.

A União Europeia e os Estados Unidos afirmaram que só reconhecerão o novo governo caso o Hamas – que classificam, como Israel, de “organização terrorista” – renuncie às armas e reconheça Israel, assim como o compromisso com os acordos de paz já assinados, embora o governo israelense não os cumpra, não reconheça a Palestina e não abdique da violência contra Gaza ou contra os palestinos, em geral.

Marwan Barghouthi é o favorito à Presidência

Para as eleições, que devem ser realizadas em seis meses, uma pesquisa recente mostra que a maioria dos palestinos entrevistados votaria em Marwan Barghouthi, do Fatah. A pesquisa, divulgada nesta quinta, também informou que 80% dos que responderam acreditam que as eleições acontecerão conforme o proposto, ao contrário das análises recentes sobre o ceticismo dos palestinos relativo ao acordo.

A pesquisa foi conduzida pelo Centro Palestino para Opinião Pública com mais de mil palestinos na Cisjordânia, em Jerusalém Leste e na Faixa de Gaza. Segundo a Ma’an, o resultado mostra um otimismo crescente sobre a efetivação do acordo de reconciliação, apesar dos acordos anteriores ainda não implementados.

“Já é tempo de Barghouthi ser libertado da prisão, para ter a oportunidade de se candidatar às próximas eleições presidenciais,” disse Nabil Kukail, presidente do Centro que conduziu a pesquisa.

Barghouthi foi um líder do primeiro e segundo levantes (intifadas) contra a ocupação israelense, impulsionados em 1987 e 2000, e tornou-se um símbolo da resistência palestina, preso de forma ilegal em 2002 – quando estava em território controlado pela AP – e condenado a cinco sentenças de prisão perpétua pelas mortes de israelenses em incidentes relacionados com a Segunda Intifada. À época, Barghtouthi recusou-se a apresentar defesa por recusar a legitimidade do seu julgamento, afirmou apoiar a resistência armada palestina contra a ocupação israelense, mas condenou ataques a civis em Israel.

Em 2001, sobreviveu a uma tentativa de assassinato quando um míssil israelense atingiu o comboio em que viajava, matando o seu guarda-costas. Além disso, Barghouthi é parlamentar e a sua transferência dos territórios palestinos para uma prisão em Israel é denunciada como uma violação da Quarta Convenção de Genebra, que abordam a ocupação e o tratamento aos civis e prisioneiros de guerra, entre outros temas.

Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações da agência palestina de notícias Ma'an