ONU insta Israel a investigar as mortes de dois jovens palestinos

A Organização das Nações Unidas (ONU) instou Israel, nesta terça-feira (20), a investigar as mortes de dois jovens palestinos durante as manifestações no Dia da Nakba (“catástrofe”, em árabe), na quinta (15). A organização israelense B’Tselem fez o mesmo apelo, mas o chanceler de Israel, Avigdor Lieberman disse rejeitar a “exigência de investigação”, nesta quarta (21). O vídeo da ação das forças israelenses tem circulado pela mídia.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Palestina - Associated Press

Mohammad Abu Thahr, 15, e Nadim Nuwara, 17, foram atingidos com disparos no peito por oficiais da Polícia de Fronteira, segundo fontes palestinas citadas pelo jornal israelense Ha’aretz, quando protestavam diante da prisão militar de Ofer, mantida por Israel próximo a Ramallah, cidade sede da administração palestina, na Cisjordânia.

“É de grande preocupação que a informação inicial pareça indicar que os dois palestinos mortos estavam desarmados e não apresentavam qualquer ameaça direta,” disse Oscar Fernandez-Taranco, da Secretaria Geral da Organização das Nações Unidas dedicado a assuntos políticos, citado pela Agence France-Presse (AFP). Uma investigação “independente e transparente” deve ser conduzida, ressaltou.

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As filmagens divulgadas por várias organizações de defesa dos direitos humanos, inclusive a B’Tselem, mostram que Mohammad e Nadim estavam distantes dos confrontos entre os manifestantes e os policiais israelenses, ou seja, não estavam em embate direto com os soldados, além de desarmados. Uma das câmeras que captou o momento estava instalada em uma loja palestina no local.

Um dos jovens foi acertado enquanto estava de costas para o oficial que disparou. Uma testemunha citada pelo Ha’aretz disse ter ouvido quatro disparos dentro de poucos minutos e disse que três adolescentes foram feridos no peito. Além de Mohamed e Nadim, que morreram em seguida, o terceiro jovem foi levado para um hospital em Ramallah.

“As imagens do vídeo mostram assassinatos ilegais, onde nenhuma das crianças apresentava uma ameaça direta ou imediata à vida [dos soldados] na hora dos disparos”, disse Rifat Kassis, diretor-executivo da organização Defesa Internacional para Crianças da Palestina, que divulgou o vídeo. “As autoridades israelenses precisam conduzir investigações sérias, imparciais e minuciosas para responsabilizar os perpetradores por seus crimes,” afirmou. Os vídeos, o primeiro, dos disparos contra Nadim, e o segundo, contra Mohamed, podem ser vistos a seguir (com conteúdo gráfico). 



Violência e crimes da ocupação israelense

“Eu rejeito qualquer exigência” por uma investigação internacional, disse o ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, enquanto visitava a grande colônia ilegal de Ariel, na Cisjordânia. “Tal incidente será investigado independentemente de qualquer exigência”, continuou, rechaçando as críticas internacionais como “hipocrisia”.

Nesta quarta-feira, o Departamento de Estado dos EUA disse que Washington também espera uma investigação, ao que Lieberman respondeu: “Não precisamos de uma exigência americana, faremos isso como compromisso com o código moral do Exército israelense”, de acordo com a agência palestina de notícias Ma'an.

O governo de Israel afirmou que a sua polícia estava operando na área no momento para tentar abafar uma manifestação “violenta” de cerca de 150 palestinos e negou usar munições letais. Fontes locais e autoridades palestinas reafirmaram que os jovens não apresentavam ameaças e denunciaram o uso de “violência excessiva e indiscriminada” pelas forças israelenses, segundo Ma'an.

Ainda nesta quarta-feira, a Agência das Nações Unidas para Trabalhos e Assistência a Refugiados da Palestina (UNRWA) divulgou um relatório que mostra “um aumento severo” de mortos e feridos pelas forças israelenses, sobretudo devido ao uso de munições letais. As forças israelenses alegam usar balas de borracha na repressão de manifestações ou em incursões, mas diversas organizações já denunciaram o emprego de munições letais ou de balas de metal apenas encapadas com uma fina camada de borracha, de acordo com a B’Tselem.

A liderança palestina acusou as forças israelenses de “execução deliberada” dos dois jovens, enquanto o Exército de Israel alegou que as filmagens foram “editadas”. A investigação das mortes e da violência da repressão contra os palestinos, quando instaurada, é geralmente arrastada no tempo e raramente resulta em qualquer julgamento credível, fato denunciado também pela organização de soldados israelenses "Breaking the Silence" (“Quebrando o Silêncio”).