Otan absorve a Ucrânia, exige mais dinheiro e mira na Ásia

A ampliação e o reforço financeiro da Otan estão em curso, de acordo com a última reunião dos chefes de Estado Maior dos países membros, realizada em Bruxelas, que abordou “questões fulcrais de estratégia mesmo na presença de representantes de Estados que não integram a aliança”, revela um assessor militar bem informado sobre o encontro.

Por Pilar Camacho, de Bruxelas para o Jornalistas sem Fronteiras

OTAN - Reprodução / Otan

A Ucrânia, a ex-República Iugoslava da Macedônia e a Geórgia têm “as portas abertas para ingressar na Otan”, de acordo com o secretário-geral Anders Fogh Rasmussen, confirmando declarações efetuadas numa visita recente aos Bálcãs.

Sinal de que as portas não só “estão abertas como a aliança já tem novos membros mesmo antes de o serem; é o fato de o chefe do Estado Maior da Ucrânia, o general Mykhallo Kutsyn, ter participado” na reunião que decorreu em Bruxelas, de 21 a 23 de maio, informou o mesmo assessor militar.

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“O fato de um chefe de um aparelho militar e de segurança dominado por grupos fascistas num país onde eleições como as de 25 de maio nada têm de credíveis não é, infelizmente, uma aberração histórica numa aliança que se diz guiada por princípios democráticos”, sublinha o assessor. “É uma marca que está na origem da organização, que teve entre os fundadores o regime autoritário de Salazar em Portugal”.

A entrada da Geórgia e da Ucrânia significa um reforço do cerco à Rússia, “o vizinho agressivo que temos de afrontar a longo prazo de um modo que é crucial decidir”, considera o general norte-americano Philip Breedlove, comandante supremo aliado na Europa nomeado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Trata-se “de um momento de viragem”, acrescentou, pelo que se impõe “o aumento das despesas militares da aliança”.

Dentro de um processo lógico de controle de poder econômico, político e militar, tanto o secretário geral Rasmussen como o general Breedlove participam na reunião do Grupo de Bilderberg, em Copenhague, onde expõem as posições dominantes na Otan relacionadas com a Ucrânia, a Rússia, as alegadas necessidades de reforço financeiro e de armamento e “também as adaptações estratégicas entendidas como necessárias em relação à Ásia, tendo em conta o recente e significativo aprofundamento das relações entre a China e a Rússia”, revelou o mesmo assessor militar em Bruxelas.

As despesas militares anuais da Otan já ultrapassam o trilhão de dólares (R$ 2,241 trilhões), segundo os números oficiais. O aumento vai ser preparado numa reunião para a qual o secretário norte-americano da Defesa, Chuck Hagel, convocou não apenas os ministros da Defesa dos países membros como também os ministros das Finanças.

Os contribuintes das nações que integram a Otan podem dar como certo o aumento das suas participações no reforço do aparelho de guerra, não apenas devido a estas movimentações mas também a outras com elas relacionadas, já assumidas pela Comissão Europeia, ainda sob a presidência de Durão Barroso.

O cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) dos países da União Europeia já é feito considerando as despesas de armamento não como gastos, mas como investimentos na segurança dos países. “Despesas fazem-se com a educação, a saúde, o bem estar e a qualidade de vida das pessoas”, ironizou o assessor militar.

Fonte: Jornalistas sem Fronteiras