Forças Especiais dos EUA no Iraque, uma missão impossível?

Os Estados Unidos apostam mais uma vez, agora no Iraque, na utilização das Forças de Operações Especiais (FOE) como ponta de lança de suas intervenções em ultramar, mas desta vez parece uma missão impossível, advertem os analistas.

Por Roberto García Hernández *, na Prensa Latina

Exército iraquiano faz demonstração em Babel

Os quase 300 integrantes das FOE que foram enviados pelo presidente Barack Obama ao país árabe formarão grupos de avaliação para avaliar a situação e aumentar as capacidades das forças iraquianas em sua luta contra o Exército Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).

As FOE estão integradas por unidades de elite do Exército, da Infantaria, da Marinha, da Armada e da Força Aérea estadunidenses, subordinadas ao Comando Conjunto de Operações Especiais do Pentágono, cuja sede está em MacDill, estado da Flórida.

Segundo o porta-voz do Pentágono, contra-almirante John Kirby, estas equipes de trabalho em território iraquiano "serão fatores chave na obtenção de dados de inteligência sobre as ações e intenções do EIIL".

Estes primeiros assessores avaliarão as prováveis missões e possível tempo de permanência de outros grupos similares, que seriam enviados ao Iraque nas próximas semanas.

O primeiro grupo que começou a prestar serviços faz parte da equipe que já trabalhava no Escritório de Cooperação de Segurança da embaixada estadunidense em Bagdá, mas os demais chegaram do Afeganistão, Barein, Egito, Jordânia, Kuwait e outros países.

Estes integrantes das FOE foram enviados em equipes com 12 militares cada uma para assessorar os centros de comando das forças armadas iraquianas e as sedes das brigadas de infantaria que defendem a capital do país.

Sua missão também será sugerir o envio de novas tropas estadunidenses para restaurar a estabilidade no país, que está em situação precária desde muito antes da retirada das unidades estadunidenses em 2011.

Mas a tarefa destes integrantes das FOE não é nada fácil, o que o foi considerado pelo jornal The Washington Post em 23 de junho passado como "a deterioração moral e física das forças armadas iraquianas".

Vários analistas em temas de segurança destacaram ao jornal que dezenas de milhares de oficiais e soldados desse país árabe têm abandonado suas unidades, motivo pelo qual a instituição armada enfrenta um "colapso psicológico" diante do avanço do EIIL.

O nível de desespero é tão alto que o primeiro-ministro Nouri al-Maliki utiliza os serviços de voluntários, que em alguns casos recebem apenas uma semana de treinamento antes de participar na proteção do território, cada vez menor, sob o controle do governo, acrescenta o jornal Post.

Enquanto isso, segundo aponta um artigo recente do jornal Stars and Stripes, as forças de segurança iraquianas têm mais de meio milhão de homens e existem poucas possibilidades de que a limitada assessoria estadunidense tenha um impacto significativo em sua preparação.

Por outro lado, vários ex-membros das FOE que combateram em anos recentes no Iraque advertiram ao site The Daily Beast, em 25 de junho, que os assessores enviados por Obama têm diante de si "uma missão impossível".

Ainda que as FOE são tropas de elite, "o fato de enviá-las ao Iraque sem um objetivo claro não proporcionará um bom resultado", acrescentam ditos analistas.

Em essência, um dos problemas chave está em que a Casa Branca não explica claramente qual é a tarefa destes assessores e só aponta de forma evasiva que atuarão como conselheiros de sua contraparte Iraquiana.

Os veteranos das FOE que conversaram com o The Daily Beast expressaram seu ceticismo sobre o que estes militares na realidade poderiam contribuir na luta contra a insurgência.

"Isto não é uma boa nem má medida, simplesmente não é nada, não sabemos o que eles farão para evitar a tomada de Bagdá pelas forças insurgentes", disse um dos veteranos – cuja identidade não foi revelada – que também foi oficial da CIA.

A fonte acrescentou que a única coisa que estes militares poderiam fazer com certa efetividade é atuar como indicadores dos alvos que deve a aviação estadunidense abater e para isso dispõem de uma moderna tecnologia de espionagem e comunicações.

Cada um destes "grupos de avaliação melhorados", como o Pentágono os qualifica, está dirigido por um tenente-coronel e integrado por elementos com experiência diversa de combate, que durante umas três semanas avaliarão as capacidades da contraparte iraquiana e depois emitirão um relatório ao respeito.

Quatro equipes adicionais de assessores com 50 militares das FOE chegaram a Bagdá em 26 de junho, o que elevou para 90 o número total presente em território iraquiano.

Outros 90 integrantes destas forças abriram nessa data um centro de operações conjuntas (COC) para ajudar as forças de segurança locais na direção das ações contrainsurgentes.

A tarefa principal do COC é proporcionar capacidades de comando, controle e inteligência aos militares estadunidenses que já estão no terreno e servirá também como um centro de consolidação e análise centralizada dos dados obtidos por diversas fontes, informou o Pentágono em 26 de junho passado.

Toda esta operação, que ainda não recebeu um nome codificado, estará supervisionada pelo major-general Dana Pittard, oficial que para esta missão foi designado como chefe do Componente Terrestre das Forças dos Estados Unidos no Iraque.

Por outro lado, militares experientes advertem que uma eventual complicação da situação de segurança na embaixada estadunidense em Bagdá e das FOE presentes na capital, poderia obrigar o Pentágono a enviar reforços para proteger suas unidades e evitar o colapso do governo local.

Isto provocaria um aumento nas ações e na introdução em combate por via aérea de militares basificados em áreas relativamente próximas ao Iraque, como é o caso dos mais de 500 infantes da marinha que estão à bordo do navio USS Mesa Verde, atualmente no Golfo Pérsico.

Por tudo isto, alguns especialistas advertem que se a situação continuar se deteriorando, a chegada dos assessores das FOE ao território iraquiano pode ser convertida no prelúdio de uma nova intervenção estadunidense, que ainda que de menor envergadura, poria a Casa Branca em um novo aperto.

*Jornalista da redação América do Norte da Prensa Latina.