Ativista saaraui completa dois meses de greve de fome em prisão

O prisioneiro politico saaraui Abdollah Boukioud, detido na prisão de Ait Melloul no Sul de Marrocos, entrou no terceiro mês de greve de fome. O detido encontra-se num estrado de extrema debilidade e corre risco de vida, sem que as autoridades marroquinas alterem os comportamentos desumanos e arbitrários que caracterizam a política penitenciária para os presos saarauis.

Por Isabel Lourenço, especial para Jornalistas Sem Fronteiras

Saara Ocidental - Kirby Gookin

Boukioud já não fala, permanece imóvel e continua proibido de receber visitas, segundo informações prestadas por familiares. Abdollah Boukioud encontra-se detido por participar em manifestações pacíficas pela autodeterminação do Saara Ocidental, última colônia na África.

As torturas, tratamento desumano, falta das condições mais básicas e a ausência de cuidados médicos são a origem do protesto de Boukioud, que é um dos presos políticos mas perseguidos e maltratados da prisão de Ait Melloul.

Segundo informações da famili, Boukioud está em perigo de vida e a direção da prisão continua a negar-se a estabelecer qualquer diálogo ou a prestar assistência médica. Os responsáveis marroquinos têm inclusivamente aproveitado o foco midiático sobre a crise de Gaza para intensificarem as perseguições aos resistentes saarauis e às famílias dos detidos.

Desde o início do ano vários prisioneiros políticos saarauis iniciaram greves de fome de longa duração devido ao agravamento atroz das condições em que são obrigados a sobreviver.

O governo de Marrocos, apesar das múltiplas recomendações e visitas de altos funcionários das Nações Unidas, do comitê de detenções arbitrárias e de representantes de várias ONGs de direitos humanos continua a ignorar os procedimentos e normas que subscreveu em vários tratados e convenções internacionais.

Assiste-se a uma escalada de perseguição, torturas e maus tratos alarmante, assim como a detenções e sequestros, como foi o caso mais recente e midiático do correspondente da Rasd TV, Mahmoud Haysan, após ter difundido uma reportagem sobre a violência exercida pelas autoridades marroquinas depois dos jogos em que participou a seleção de futebol argelina.

Resistente assassinado a tiro

Na noite de 12 de Julho, unidades do exército marroquino assassinaram o cidadão saaraui Brahim Budda Ould Taher em Umm Dreyga. Os soldados, dispararam balas reais na direção da viatura em que se deslocava, provocando a Brahim uma lesão grave na cabeça e a morte quase imediata.

Na tentativa de ocultar o crime, membros do exército transportaram o cadáver para um lugar a 150 quilômetros dos acontecimentos, segundo declarações de familiares da vitima.
Brahim Budda Ould Taher tinha 35 anos e dois filhos menores. Nasceu e vivia em El Aaiun, tendo como atividade principal o pastoreio.

As forças de ocupação marroquinas continuam a executar ataques com munições reais contra os cidadãos saarauis beduínos que exercem a sua atividade de pastoríeio perto do muro de separação, também conhecido como “muro da vergonha”. Este muro, com 2720 quilômetros de extensão, foi construído pelo Reino de Marrocos; é o mais comprido após a muralha da China e a sua manutenção custa cerca de dois milhões de euros diários. Mais de 150 mil soldados marroquinos estacionam ao longo do muro, recorrendo a tanques, drones, mísseis e fiscalização por satélite.

Numerosos cidadãos saarauis juntaram-se frente ao hospital para onde o corpo de Brahim Budda Ould Taher foi transportado pela família, condenando o crime e manifestando-se pela libertação do Saara Ocidental.

Fonte: Jornalistas sem Fronteiras