Saarauis denunciam violência e recusa marroquina em acatar resoluções

O governo saaraui e a Frente Polisario, do Saara Ocidental, condenaram a falta de respeito do Marrocos, que ocupa a região do noroeste africano ilegalmente, com relação às resoluções da União Africana (UA) e das Nações Unidas, instando a comunidade internacional a responsabilizar o regime de Rabat por práticas similares às de um regime de apartheid. Nesta semana, denúncias de mais ataques da polícia marroquina contra os saarauis, em pleno Ramadã, também foram relatadas.

Marrocos - Fadel Senna/AFP/Getty Images

“O Marrocos, que desde 1991 impede a realização de um referendo para a autodeterminação [do povo saaraui] e o trabalho do enviado pessoal do secretário-geral das Nações Unidas, Christopher Ross, está agora recusando-se a cooperar com a União Africana e seu enviado especial, Joaquim Chissano,” afirma uma declaração divulgada na quarta-feira (2) pelo Ministério de Relações Exteriores da República Árabe Saaraui Democrática (RASD), proclamada pela Frente Polisario na década de 1970, mas ainda apenas parcialmente reconhecida.

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Ao recusar-se a cooperar com Chissano, recentemente nomeado enviado especial pela UA (da qual o Marrocos é o único país africano não membro, devido ao reconhecimento e à integração da RASD), “o regime marroquino segue os passos do regime de apartheid, que ignorava a legitimidade internacional e as resoluções da ONU e da então Organização da Unidade Africana,” substituída pela UA.

O governo saaraui afirmou que os esforços conjuntos da ONU e da UA “foram e continuarão sendo, como no caso de todas as disputas e conflitos no continente, harmoniosos e integradores, onde não há rivalidade ou contradição entre as duas organizações, conectadas pelas obrigações de cooperação para resolver conflitos a nível africano.”

A declaração, divulgada pela agência local de notícias Sahara Press, também insta a ONU e a UA a arcarem com as “responsabilidades totais” impondo um fim à ocupação marroquina ilegal do Saara Ocidental, às graves violações dos direitos humanos, aos crimes de guerra e aos crimes contra a humanidade cometidos pelo Marrocos contra o povo saaraui.

Repressão policial, cerco e tortura

Nos últimos dias, os saarauis têm denunciado também a agressão da polícia marroquina contra aqueles que comemoraram ou instalaram pontos de torcida pela seleção da Argélia, a única árabe representada na Copa do Mundo no Brasil, eliminada ainda nesta semana. A violência é motivada também pelo fato de o governo saaraui ser baseado no campo de refugiados de Tindouf, onde vivem mais de 100 mil saarauis, em solo argelino. 

Segundo fontes locais citadas pelo portal dos Jornalistas sem Fronteiras, a polícia marroquina montou operações na cidade de El-Aiun, bloqueando ruas com caminhões carregados com pedras que os agentes lançavam contra quem comemorasse ou apenas manifestasse apoio à Argélia. Um jovem, por se ter recusado a despir uma camiseta argelina, teria sido sequestrado pela polícia, levado para local recôndito e torturado.

A violência dos ocupantes marroquinos é prática cotidiana no Saara Ocidental, apesar de recentemente a ONU ter feito apelos a um maior respeito pelos direitos humanos nos territórios ocupados. O território está tecnicamente em situação de descolonização desde a década de 1970, aguardando um referendo aprovado por resoluções da ONU, mas ainda sem previsões, no contexto da negligência internacional a respeito da ocupação marroquina sobre o Saara Ocidental.

Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações do Sahara Press e do Jornalistas sem Fronteiras