Bolívia: Tentativa de chapa única opositora fracassa e Evo é favorito

A campanha presidencial boliviana começou nesta semana com cinco candidatos ao principal cargo político do país. Quatro chapas de oposição tentarão evitar a reeleição do atual presidente Evo Morales do MAS (Movimento ao Socialismo), que buscará o terceiro mandato consecutivo. O primeiro turno das eleições acontecerá no próximo dia 12 de outubro.

Por Victor Farinelli, de Santiago para a Opera Mundi

Evo Morales - Agência Efe

Durante o mês, passado, três dos pré-candidatos presidenciais de oposição negociaram para formar uma chapa única, que seria liderada pelo empresário Samuel Doria– que aparece com 14% das intenções de voto, segundo a última pesquisa, do instituto Tal Cual, em abril.

Porém, divergências programáticas com os movimentos de centro-esquerda que iriam apoiar a candidatura terminaram não possibilitando a união entre todos os movimentos. O prazo de inscrição para as candidaturas se encerrou na última sexta-feira (18).

As pesquisas apontam Evo Morales com possibilidades de vencer já no primeiro turno, pois tem 36% das intenções de voto. Segundo a lei eleitoral boliviana, existem dois cenários que podem determinar a vitória de um candidato já no primeiro turno: com mais de 50% dos votos válidos, como no Brasil, e recebendo mais de 40%, desde que exista uma vantagem de mais de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado. Caso Morales não consiga alcançar nenhum desses dois cenários no dia 12 de outubro, haverá segundo turno, no dia 7 de dezembro.

Dos quatro concorrentes que conversaram com o partido de Doria (UN, Unidade Nacional), apenas um aderiu à sua campanha. Rubén Costas, atual governador do estado de Santa Cruz (tradicional reduto eleitoral da oposição), entregou o apoio do MDS (Movimento Democrático Social), à candidatura do empresário e lamentou a falta de um acordo maior entre as oposições.

“O exemplo da Venezuela mostra que a melhor forma de vencer esses caudilhismos modernos é com a união de diferentes visões de país em prol da mudança, o que infelizmente não foi possível aqui, por causa da intransigência da centro-esquerda”, reclamou Costas, que passou a ser chefe de campanha de Samuel Doria.

Além de Evo Morales e Samuel Doria – que também disputa o cargo pela terceira vez, já que ficou em terceiro lugar tanto em 2005 quanto em 2009, com 7,8% e 5,6% dos votos, respectivamente –, os outros concorrentes serão dois ex-aliados e um tradicional oponente do atual mandatário.

O outro candidato da direita será o economista Jorge Quiroga, adversário de Morales em 2005 – quando ficou em segundo, com 28,6%. Porém, se naquela ocasião Quiroga representava uma aliança mais ampla de partidos liberais de direita, desta vez ele se apresenta unicamente como candidato do PDC (Partido Democrata Cristão).

Entre os candidatos de centro-esquerda, dois nomes que outrora apoiaram o MAS (Movimento ao Socialismo, representado por Evo Morales) e que se envolveram em polêmicas recentes com o atual governo. O ex-prefeito de La Paz Juan del Granado encabeçará a chapa do MSM (Movimento Sem Medo), uma dissidência do MAS surgida em 2009, após uma controvérsia ocorrida durante as eleições municipais daquele ano. Desde então, o partido se coloca como alternativa eleitoral socialista e venceu os governistas em duas prefeituras emblemáticas: La Paz e Oruro. Na pesquisa de abril, Juan del Granado aparecia em terceiro lugar, com 7% das intenções.

A quinta candidatura cria um cenário especial, já que pela primeira vez Evo Morales enfrentará um adversário de origem indígena, como ele. Trata-se de Fernando Vargas, do PVB (Partido Verde Boliviano), líder de manifestações contra o governo entre 2011 e 2012. Liderados por Vargas, representantes indígenas do norte do país conseguiram desviar a construção de uma rodovia entre as localidades de Villa Tunari e San Ignacio de Moxos, cujo projeto original deveria cruzar a área do TIPNIS, principal reserva de proteção ecológica da Amazônia boliviana, onde habitam numerosas comunidades de povos originários. Assim como Jorge Quiroga, Vargas não aparece nas últimas pesquisas.

Maioria feminina nas parlamentárias

Outro dado confirmado nesta segunda pelas autoridades eleitorais na Bolívia foi o cumprimento, por parte dos partidos, da Lei de Paridade de Gênero, o que significa que as coligações levarão quantidades equivalentes de candidatas e candidatos para disputar cargos na Câmara e no Senado. Na verdade, elas serão uma pequena maioria: 753 mulheres concorrerão nas eleições parlamentárias, em comparação com 723 homens.

Nas presidenciais, o mesmo fenômeno não aconteceu, e as mulheres terão papel coadjuvante. Os cinco concorrentes ao cargo máximo do executivo boliviano serão homens, mas três dessas fórmulas presidenciais levam mulheres como candidatas à vice-presidência – as exceções são, curiosamente, as duas candidaturas com maior apoio segundo as pesquisas.

O MSM, de Juan del Granado, levará como vice a deputada Adriana Gil. Jorge Quiroga será acompanhado por Tomasa Yarhui, advogada de origem indígena. Já o Partido Verde escalou a socióloga Margot Soria na chapa junto com Fernando Vargas.