Começa a campanha eleitoral na Bolívia, com vantagem de Evo

Foi dada a largada para a campanha das eleições gerais de 12 de outubro próximo na Bolívia. São cinco as organizações políticas n a disputa.

Ainda que 11 partidos tenham cumprido os requisitos estabelecidos pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), somente o Movimento Ao Socialismo (MAS), Unidade Democrática (UD), Movimento Sem Medo (MSM), Partido Ecologista e o Partido Democrata Cristão (PDC) se preparam para a fase final.

Esta será a primeira eleição na qual se inscrevem somente cinco partidos; em 2002 concorreram 11, e depois, em 2005 e 2009, ambas vencidas por Evo Morales, inscreveram-se oito grupos.

O próximo passo, além de que já podem iniciar a campanha eleitoral, é a apresentação por parte de cada uma das organizações da documentação que respalda os candidatos, cujo prazo é o próximo dia 25 de julho.

No entanto, os analistas consideram que tudo o que ocorrer antes de 12 de outubro carecerá de importância e nesse mesmo dia, inclusive, a atenção estará centrada em ver a vantagem que o governismo poderá ter sobre a oposição, em sua tentativa de conseguir dois terços do Legislativo.

Tendo por base essas considerações, muitos dão como certo que a coligação do MAS, formada por Evo Morales e Alvaro García Linera, é a amplamente favorita para se manter por mais cinco anos no Palácio Quemado.

Sem bloco opositor

A ideia de um bloco único opositor, uma opção que se trabalhou há muitos meses com a intenção de derrotar o MAS na disputa pela Presidência, foi frustrada desde antes de a campanha começar e o líder da Unidade Nacional, Samuel Doria Medina, que pretendeu nuclear as demais forças políticas ao seu redor, fracassou na tentativa.

O empresário do cimento e ex-ministro de Planejamento do governo de Gonzalo Sánchez de Lozada insistiu em seus chamados à unidade, mas só conseguiu aliança com o Movimento Democrata Social (MDS), liderado pelo governador de Santa Cruz, Rubén Costas.

Costas havia flertado com o Movimento Sem Medo, encabeçado por Juan del Granado, que na última hora o deixou de lado e se alinhou com Doria Medina, com a intenção – para muitos explícita – de aspirar à reeleição como governador do departamento mais rico do país, e com os interesses voltados para as eleições de 2019, em que se candidatará a presidente sem a sombra de Evo Morales, que cumprirá seu segundo e último mandato constitucional.

Doria Medina levará como companheiro de coligação, pela Unidade Democrática, o outrora governador do Beni, Ernesto Suárez, que perdeu seu cargo na referida região amazônica em abril de 2012, meses após terem sido comprovadas despesas não autorizadas em benefícios de comunidades específicas.

O MSM, por sua vez, inscreveu Del Granado e Adriana Gil, ex-deputada pela Convergência Nacional e outrora militante do MAS, como candidatos, no que para muitos é um desmedido entusiasmo do candidato à Presidência, que disse que sua força política venceria as eleições, apesar de que todas as pesquisas o situam como o de menos possibilidades.

O PDC apresentou o ex-presidente Jorge Tuto Quiroga (2001-2002) em dobradinha com a indígena de etnia quechua Tomasa Yarhui, uma coligação que, segundo o analista Hugo Moldiz, poderia tirar votos de Doria Medina, segundo as pesquisas atuais.

O quinteto de candidatos à presidência fica completado pelo indígena Fernando Vargas, acompanhado de Margot Soria, pelo Partido Ecologista, ou Verdes, como costumam chamá-lo no país.

A mensagem de Evo Morales

Pouco antes de viajar ao Brasil para participar em uma reunião de presidentes da região com líderes do grupo Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o chefe de Estado pediu aos candidatos de seu partido que não se deixassem levar pela guerra suja da oposição e pediu que se usasse o Programa de governo do MAS como bandeira, além do passado neoliberal dos opositores.

Só é necessário que sejam evidenciadas as mudanças estruturais feitas na Bolívia a partir da implementação do processo de mudança em 2006, comentou o presidente durante a tomada de posse de Jorge Pérez como ministro de governo, em substituição a Carlos Romero, que se apresentou como candidato a senador por Santa Cruz.

"Meu pedido a todos e todas é não entrar na guerra suja e isso foi muito importante nas duas eleições, desde 2005", destacou, e insistiu não somente em questionar o modelo neoliberal mas também em demonstrar ao povo boliviano as mudanças positivas nos setores econômico, social e político, além de que explicar o Plano de governo 2015-2020.

Para Morales "não se trata de entrar em insultos, na guerra suja, porque todos dizem o que estarão planificando (os opositores) para dizer a Evo e ao vice-presidente (Alvaro García Linera) e aos candidatos e candidatas. O povo deve estar preparado para enfrentar essas acusações".

O primeiro presidente indígena na história da Bolívia reafirmou que a oposição está apresentando seus programas com base na venda dos recursos do Estado, em alusão às declarações do líder da Unidade Nacional (UM), Doria Medina, que anunciou a venda do avião presidencial caso for eleito à presidência do país.

"São especialistas em vender a pátria. Não é difícil recordar isso e começar a vender a pátria desde os aviões, não terão aviões para atender as demandas, claro antes os presidentes nunca saíam do Palácio Quemado", afirmou.

Por último, o presidente insistiu em que a campanha dos candidatos do MAS deve ser baseada em três pilares: os antecedentes dos governos neoliberais, as mudanças estruturais e o programa de governo até 2020.

Protagonismo feminino

Ainda que nenhum partido tenha apresentado uma mulher como candidata à presidência para as eleições, as mulheres são maioria entre as candidatas a senadoras, deputadas e membros de parlamentos regionais, que serão eleitos em outubro.

Do total de candidaturas, 52% corresponde às mulheres, segundo um relatório da fundação Coordenadora da Mulher, que antecipou a presença de 753 candidatas a cargos legislativos, mais da metade como titulares.

Para Mónica Novillo, da Coordenadora da Mulher, a incorporação de tantas mulheres à disputa eleitoral é uma meta e destacou que pela primeira vez três mulheres aparecem como candidatas à vice-presidência por diferentes organizações políticas.

Evo, o candidato a derrotar

Ainda que o presidente Evo Morales tenha dito em várias ocasiões nos últimos meses que a pretensão de seu partido é atingir 74% dos votos, um número superior em 10 pontos porcentuais ao atingido em 2009, muitos analistas acham que ele não obterá essa vantagem, mas que irá ganhar com facilidade.

Os analistas consideram, inclusive, que a inscrição de quatro organizações políticas para uma disputa na qual o governismo aparece certamente como ganhador é por si um sucesso, porque em situações similares teriam prescindido de participar.

Inclusive, a maioria acredita impossível forçar um segundo turno, porque Morales ganharia com 51% dos votos ou com 10 pontos de vantagem sobre seu mais próximo adversário, um motivo pelo qual a oposição se concentrará em tratar de evitar seu domínio no Legislativo.

Alguns, mais radicais, acham que as eleições de 12 de outubro serão as mais desiguais da história, ainda que, de qualquer maneira, a corrida recém começou e fica muito tempo para análises e conjecturas.

Da sucursal da Prensa Latina na Bolívia.