Brics e fórum China-Celac desenham novos cenários

A cúpula dos Brics, o encontro com líderes sul-americanos e reunião China-Celac desenharam um novo cenário para o sistema financeiro internacional e suscitaram novas oportunidades para o desenvolvimento dos países do Sul.

Nestas reuniões dos principais países emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os latino-americanos, realizadas entre 14 e 17 de julho no Brasil, foram desenhadas estratégias e dados passos que favorecem a implementação de projetos de cooperação, comércio e investimento na América Latina e no Caribe.

O grupo Brics acordou criar um Banco de Desenvolvimento e um Acordo de Reservas de Contingência, que contribuirão com o financiamento de programas de infraestrutura sustentável em países em desenvolvimento e assegurar a estabilidade financeira do bloco emergente.

A instituição bancária contará com um capital inicial de 50 bilhões de dólares, que será abonado em parcelas iguais pelos cinco membros do grupo, uma cifra que – segundo a presidenta brasileira, Dilma Rousseff – crescerá até atingir os 100 bilhões.

Sua sede será instalada em Xangai, considerada como o principal mercado e setor financeiro da China, e os principais cargos administrativos serão assumidos de maneira temporária e rotativa pelos membros dos Brics.

O Acordo de Reservas de Contingência terá por sua vez um capital de 100 bilhões de dólares e será tributado da seguinte forma: a China entregará 41 bilhões, enquanto Brasil, Rússia e Índia abonarão cada um 18 bilhões e a África do Sul cinco bilhões de dólares.

Esta instituição servirá para apoiar as economias do grupo e contribuirá também para manter a estabilidade financeira global ao complementar os mecanismos existentes.

Ambas as instituições, além de beneficiar os países emergentes e outros em desenvolvimento, acarretarão mudanças no sistema financeiro mundial, desenhado em 1944 no complexo de Bretton Woods, Estados Unidos.

A pretensão deste grupo é contar com instituições que façam um contrapeso às tradicionais dos Estados Unidos e da União Europeia, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

Para a presidenta brasileira, Dilma Rousseff, trata-se de um sonho proposto em 2012, na 4ª cúpula do bloco em Nova Déli, Índia, transformado em realidade, para compensar a insuficiência de créditos das principais instituições financeiras globais.

Com respeito ao Banco Mundial, os líderes deste grupo apontaram que este precisa avançar para uma administração mais democrática e aplicação de inovações que assegurem o financiamento do desenvolvimento e do conhecimento compartilhado, sem condicionamentos.

Criado em 2001, o Brics aparece hoje com um grande peso no cenário político-econômico mundial, devido à contínua ascensão de seu PIB, no meio da crise da Europa e dos Estados Unidos.

Trata-se de países que, apesar da diversidade geográfica, étnica, cultural e linguística, estão decididos a construir uma aliança sólida e produtiva, com consequências altamente positivas para o sistema financeiro global.

O encontro dos líderes das economias emergentes com presidentes sul-americanos permitiu aproximar posições e estabelecer as bases para uma cooperação que propiciará a democratização das relações internacionais, estabilidade e prosperidade do mundo.

Foi uma cúpula histórica, porque marca o novo tempo do Século 21, assegurou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao reafirmar que o encontro em Brasília pode ser o embrião de "uma grande aliança entre as cinco potências emergentes" e uma América do Sul que, como bloco, "vem construindo seu próprio caminho".

Relações China-Celac

A reunião é parte do aumento das relações entre o país asiático e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) que propiciará estabelecer um diálogo sistemático mútuo e defender os interesses do Sul.

As partes concordaram com a criação do fórum de Cooperação China-Celac, um mecanismo que garantirá a discussão de diversos temas com o propósito de aproximar posições e contribuir com a ampliação dos acordos, a estabilidade e o crescimento inclusivo e a formação de um mundo multipolar.

Este fórum realizará sua primeira reunião em nível de chanceleres na capital da China, em data no próximo ano ainda a ser marcada, e poderia gerar uma associação integral que favoreça o desenvolvimento comum independentemente das diversidades.

O presidente da China, Xi Jinping, e os latino-americanos participantes concordaram avançar em três propostas: criar um Fundo específico para financiar projetos de infraestrutura, que contará no início com 10 bilhões de dólares e chegará depois até os 20 bilhões.

Houve o interesse de que esta iniciativa comece a ser estruturada imediatamente para que esteja pronta no início do ano que vem, afirmou.

A segunda proposta está relacionada com a implementação de uma linha de crédito preferencial com a Celac, que poderia chegar até 10 bilhões e a terceira seria instaurar um fundo de cooperação sino-latino-americano-caribenho para investimentos no valor de cinco bilhões de dólares.

A China ofereceu também seis mil bolsas de estudos para jovens latino-americanos, além das cinco mil já outorgadas ao Brasil, que contribuirão com a formação de profissionais em carreiras técnicas.

Segundo o documento final aprovado, fez-se um chamado a formular o Plano de Cooperação 2015-2019, que assegure o fortalecimento do diálogo político, o comércio, o investimento e o desenvolvimento social e sustentável.

A declaração revela a vontade de se redobrar os esforços para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e insta que se defina a Agenda de Desenvolvimento pós 2015, baseada no respeito aos princípios consagrados no texto final da conferência Rio+20.

A China, a América Latina e o Caribe reiteraram seu apego irrestrito aos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas, do Direito Internacional, e defenderam a solução pacífica das controvérsias, a cooperação para o desenvolvimento, a proibição do uso e da ameaça do emprego da força.

Neste sentido, houve respaldo unânime à Argentina em sua luta contra os fundos abutres e exigiu-se respeito aos acordos estabelecidos entre devedores e credores nos processos de reestruturação das dívidas soberanas.

O encontro do presidente chinês com o quarteto da Celac contou com a presença dos presidentes Luis Guillermo Solís, da Costa Rica; Raúl Castro, de Cuba; Rafael Correa, do Equador, e o primeiro-ministro de Antiga e Barbuda, Gaston Browne. Participaram também os governantes da Venezuela, do Chile, do Uruguai, da Colômbia, da Guiana, do Suriname e vários chanceleres.

O encontro marcou um novo caminho para aprofundar o diálogo político e desenvolver o comércio, o investimento e o desenvolvimento social e sustentável na América Latina.

Da sucursal da Prensa Latina no Brasil