Via Campesina alerta para crise alimentar em Honduras

Honduras está enfrentando uma intensa crise alimentar provocada pelos investimentos no agronegócio e no modelo neoliberal, que privatiza bens e serviços e prejudica o pequeno e médio produtor agrícola. Atualmente, 70% das pessoas que vivem no campo são pobres e, deste total, 40% vivem na extrema pobreza. A Via Campesina denuncia que a situação chegou a esse ponto pela falta de vontade política.

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Nos últimos anos, campesinos e campesinas vêm intensificando a luta para conquistarem a recuperação de terras e voltarem a produzir grãos básicos e hortaliças, caminho para conseguirem alimentar suas famílias e para ajudarem o país a sair da atual crise alimentar. No entanto, a luta não é fácil, pois os latifundiários que se apossaram das terras campesinas têm apoio de órgão repressores do Estado, denuncia a Via Campesina.

A cada dia, ficaria mais visível a necessidade de se abandonar o agronegócio. A população campesina que, durante muito tempo, foi responsável por alimentar e sustentar a população no país, atualmente, enfrenta condições desumanas, já que a terra e os recursos naturais foram tomados pelas grandes transnacionais e seus sócios. Faltam grãos básicos para o cultivo e o déficit alimentar está atingindo números nunca antes registrados no país.

O Governo de Honduras, por meio da Direção de Ciência e Tecnologia Agropecuária, decretou que dez departamentos e 64 municípios (o que representa mais de 76 mil famílias de pequenos produtores) foram afetados pela falta de chuva. 50% dos cultivos dos municípios do norte de Olancho foram perdidos por causa da seca.

Na zona sul, mais de 30 famílias de Valle e Choluteca também estão tendo suas plantações de grãos básicos afetadas pela escassez de chuvas. 12 municípios do departamento de Choluteca foram afetados severamente. Em Yauyupe, Texíguat, Vado Ancho, San Antonio de Flores, San Lucas, Soledad, Liure, Alauca e Oropolí, os prefeitos declararam alerta vermelho.

Em comunicado, o deputado e coordenador geral da Via Campesina Honduras, Rafael Alegría, aponta que a crise alimentar que afeta o país é fruto da falta de um novo marco jurídico e da ausência de políticas para o desenvolvimento agrícola. Ele pede que o governo trate, com seriedade, as propostas e pedidos feitos pela Via Campesina e pela Aliança Campesina, para resolver os problemas agrários no país.

As organizações construíram a proposta de "Lei de Reforma Agrária Integral com Equidade de Gênero para a Soberania Nacional e o Desenvolvimento Social”, que foi apresentada por Alegría, no dia 9 de abril, no Congresso Nacional, mas acabou engavetada, pois o Congresso priorizou uma proposta voltada para pesca e aquicultura.

A proposta de lei contempla uma distribuição justa dos recursos naturais, com o objetivo de combater a pobreza no campo, promover uma plena participação e igualdade dos/as campesinos/as e do/a pequeno/a e médio/a produtor/a com outros setores.

Alegría reforça o pedido para que as autoridades do governo aprofundem a análise no marco do movimento campesino e da sociedade hondurenha, para que compreendam a crise pela qual transita a agricultura do país e possam incidir na aprovação de uma política agrária, com a participação de homens, mulheres e jovens da área rural sem criminalizar a luta social campesina.

Fonte: Adital